Nestes altos e baixos de ânimo, por razões próximas que não sou capaz de descortinar, retorno ao ponto mais baixo do ciclo. É o ânimo e é o cansaço, que em mim se apresentam associados. Se a semana decorresse mais intensa em matéria de solicitações de trabalho, não haveria espaço para estes sinais exteriores de debilidade, isto é, teriam que aguardar oportunidade. As coisas são entretanto como são e, por assim ser, volto ao estado de agonia na sua dimensão mais embaraçosa.
Não ligo esta ressaca aos telefonemas (dois) recentes que me fizeste, nem à visita que te fiz. Não digo que não me tenham afectado mas, se concorrem para este meu momento psicológico, fá-lo-ão em adição de razões mais profundas. Aliás, hoje não me telefonaste, embora eu mantivesse a expectativa que o fizesses. Porventura o questionário com que me brindaste ontem ficou então preenchido, pelo que não permanecia justificação para contacto posterior. Tens que conceder, no entanto, que a interrupção abrupta da ligação (por força do esgotamento das moedas) não permitiu que me desses conta do sucesso ou insucesso das respostas.
Neste interregno de comunicação, fui processando os dados que me havias feito chegar. Desses, talvez te surpreenda que o que me mereceu maior ponderação tenha sido o que se exprime na circunstância de me teres visto movimentar em Braga, sendo seguro que eu não te vi. Não mereceria atenção particular não fora a coincidência de tal se ter passado de modo idêntico em diversas outras ocasiões, a crer nas tuas alegações. E, confesso-te: gostaria de te ter visto desta e das outras vezes, particularmente desta vez.
Não te vi - disso não me resta dúvida – e não entendo como pudeste tu ver-me sem que eu te visse. A verdade é que, se a minha vista não é o que já foi, a tua não me parece em melhor estado. Tu mesma o dizes. Resulta então, daqui, um mistério. O mistério adensa-se quando eu sou visto por “A” ou por “B”, acompanhado, neste e naquele sítio, mesmo que não o tenha frequentado em período recente ou lá tenha estado sozinho. Tens que admitir que estes são dados fortes o bastante para me prenderem a atenção. Tanto mais quanto me sabes um cultor da ficção científica e um adepto confesso dos efeitos especiais. Aliás, como costumo afirmar, para ensaio sobre as misérias do quotidiano basta o próprio quotidiano. Disso fazem espectáculo diário os media.
Eis, Helena querida, um retrato do meu estar psicológico. Será bastante fidedigno já que o que está escrito antes foi-o ao sabor do pensamento livre (outros diriam, ao sabor da pena), não antecipando este final de divã de psiquiatra. É bom que assim seja para que o retrato surja bem autêntico, sem maquilhagem e sem acerto de cabelo. Perante ti posso expor-me despido, segundo creio.
Não tenho conselhos para dar ao psiquiatra. Também não lhos peço. De ti também não os pretendo receber. Se fossem beijos...
Braga, 9 de Setembro de 2004
José Cadima
Ps: correndo o risco de ser acusado de uma súbita simpatia pelo Ps. (com um pontinho em vez de dois pontos – o “s” pequeno é para simbolizar o estado em que está o socialismo), que declaro não ter qualquer fundamento, sou obrigado a recorrer outra vez a esta figura para reparar os efeitos de uma gralha que pousou sobre a data da carta de ontem, fazendo aparecer um seis onde, em verdade, estava um oito. Embora a culpa seja toda da gralha, por uma questão de afinidade com aquela, venho assumir a responsabilidade do erro.
Não ligo esta ressaca aos telefonemas (dois) recentes que me fizeste, nem à visita que te fiz. Não digo que não me tenham afectado mas, se concorrem para este meu momento psicológico, fá-lo-ão em adição de razões mais profundas. Aliás, hoje não me telefonaste, embora eu mantivesse a expectativa que o fizesses. Porventura o questionário com que me brindaste ontem ficou então preenchido, pelo que não permanecia justificação para contacto posterior. Tens que conceder, no entanto, que a interrupção abrupta da ligação (por força do esgotamento das moedas) não permitiu que me desses conta do sucesso ou insucesso das respostas.
Neste interregno de comunicação, fui processando os dados que me havias feito chegar. Desses, talvez te surpreenda que o que me mereceu maior ponderação tenha sido o que se exprime na circunstância de me teres visto movimentar em Braga, sendo seguro que eu não te vi. Não mereceria atenção particular não fora a coincidência de tal se ter passado de modo idêntico em diversas outras ocasiões, a crer nas tuas alegações. E, confesso-te: gostaria de te ter visto desta e das outras vezes, particularmente desta vez.
Não te vi - disso não me resta dúvida – e não entendo como pudeste tu ver-me sem que eu te visse. A verdade é que, se a minha vista não é o que já foi, a tua não me parece em melhor estado. Tu mesma o dizes. Resulta então, daqui, um mistério. O mistério adensa-se quando eu sou visto por “A” ou por “B”, acompanhado, neste e naquele sítio, mesmo que não o tenha frequentado em período recente ou lá tenha estado sozinho. Tens que admitir que estes são dados fortes o bastante para me prenderem a atenção. Tanto mais quanto me sabes um cultor da ficção científica e um adepto confesso dos efeitos especiais. Aliás, como costumo afirmar, para ensaio sobre as misérias do quotidiano basta o próprio quotidiano. Disso fazem espectáculo diário os media.
Eis, Helena querida, um retrato do meu estar psicológico. Será bastante fidedigno já que o que está escrito antes foi-o ao sabor do pensamento livre (outros diriam, ao sabor da pena), não antecipando este final de divã de psiquiatra. É bom que assim seja para que o retrato surja bem autêntico, sem maquilhagem e sem acerto de cabelo. Perante ti posso expor-me despido, segundo creio.
Não tenho conselhos para dar ao psiquiatra. Também não lhos peço. De ti também não os pretendo receber. Se fossem beijos...
Braga, 9 de Setembro de 2004
José Cadima
Ps: correndo o risco de ser acusado de uma súbita simpatia pelo Ps. (com um pontinho em vez de dois pontos – o “s” pequeno é para simbolizar o estado em que está o socialismo), que declaro não ter qualquer fundamento, sou obrigado a recorrer outra vez a esta figura para reparar os efeitos de uma gralha que pousou sobre a data da carta de ontem, fazendo aparecer um seis onde, em verdade, estava um oito. Embora a culpa seja toda da gralha, por uma questão de afinidade com aquela, venho assumir a responsabilidade do erro.
Sem comentários:
Enviar um comentário