Um dia depois de ter passado por Braga e na véspera de rumar às terras geladas da Sibéria, Alexandre Sousa, professor da Universidade de Aveiro e desinquietador de espíritos, perguntava-nos, e perguntava-nos bem (mal), “what else?”. Isso queríamos nós saber! É que os rumos do Ensino Superior Nacional são difíceis de descortinar, guiados por timoneiros tão temerários quanto o são os que temos tido, a começar pelo Zé Mariano, que antes foi Gago e só perdeu quando começou a abusar da palavra ganha.
“Como é que tu és a favor do RJIES?”, perguntava-lhe outro marinheiro. Mas como é que se pode ser marinheiro e, ao mesmo tempo, gostar de águas paradas? Escolhido que tenha sido ser-se marinheiro, há que marear nas águas que o mar traga, que nunca hão-de ser paradas e, muito menos, estagnadas. A escolha é ser-se marinheiro.
Feitos ao mar, pode-se ir a Bolonha? Pois concerteza, mas a Bolonha que se queria era bem condimentada, não esta piza sensaborona que nos calhou. Habilitado com o seu curso intensivo de marketing e imagem, o Zé Mariano nunca mais quis saber o que quer que fosse da qualidade da massa e dos ingredientes. Basta-lhe que a piza pareça luzidia, e se se pouparem uns cobres para ajudar as “reformas” de Sócrates e os coitados dos americanos tanto melhor. Foi assim que Barroso chegou a presidente da Europa e o Zé Mariano não é menos que ele, a não ser talvez no empenho com que Barroso abraçou a militância MRPPista doutros tempos.
E a bisca lambida? Essa é para ser lambida nos senados trazidos pelo RJIES (Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior) que, fazendo de conta, hão-de aplaudir esta Bolonha e todas quantas os senhores do marketing e da propaganda mandarem lamber, a bem das “reformas”. E se forem muitos, mais biscas lambem. Desde que possam preservar a sua parcela de protagonismo, porque não? A pequena dificuldade que subsiste é que pode restar só o papel de bobo da corte.
Tal qual George Clooney”, dizia-nos Alexandre Sousa, “também eu apareço sempre que posso em anúncios de vacas leiteiras". Pudera! Podendo escolher entre vacas leiteiras e vacas escanzeladas ou esbeltas (como lhes chamava um colega mais imaginativo, vai para pouco menos de uma dezena e meia de anos), quem não fica com as leiteiras. E então agora que o leite está caro. Não é por isso que deixa de haver utopias realizáveis. É preciso é batalhar mais por elas. Bolonha é já ali! Os americanos hão-de se envergonhar desta sopa dos pobres e quando isso acontecer restará ao Zé Mariano fazer outro curso intensivo de marketing e propaganda ou pedir ajuda a Barroso, para que lhe arranje um lugar de chefe de gabinete em Bruxelas. Não seria o primeiro e Barroso já não é o Durão que em tempos foi.
O processo em curso nas universidades e politécnicos não é, nem tem de ser, pacífico. “Processos pacíficos são aqueles que defrontamos com o Ministério da Finanças quando não pagamos o IRS”, retorquia Alexandre Sousa, outra vez. É entretanto diferente haver visões diferentes da universidade (e do politécnico) e uns quantos apresentarem-se como senhores do destino das Instituições de Ensino Superior (IES), para mais, conhecendo nós “a verdade” de que são mensageiros.
Como digo, o problema não são as leituras diversas que se façam das IES e dos caminhos a trilhar. Penoso é, isso sim, constatar o "estado gripal do (des)ensino superior", na caracterização de Vasco Eiriz, professor da EEG/Universidade do Minho, citando alguém que não importa trazer para aqui. Penoso é que haja professores a fazer xixi na tampa da sanita. Penoso é que em reuniões dos órgãos académicos herdados do anterior ordenamento jurídico, a grande maioria dos professores universitários mantenha um silêncio estrondoso em relação a tudo que tenha menos natureza de gestão corrente, porque têm medo.
Face ao beco sem saída do presente, qualquer debate só pode resultar rico, por mais caótico que pareça, desde que exista. Que se dane o Zé Mariano, que, ironicamente, até pode ser louvado por tê-lo provocado, e que se dane o Augustus. Que se dane o Augustus, que ainda por cima é daltónico e viu bandeiras vermelhas onde só havia lenços brancos. Se as vacas são escanzeladas, porque há-de o académico fingir que as achas gordas e leiteiras? Deve achá-lo só porque lhe matraqueiam quotidianamente o espírito com discursos da reforma, e das maravilhas que lhe hão-de chegar de Bolonha?
Vivam as vacas leiteiras! Viva a bisca lambida!
“Como é que tu és a favor do RJIES?”, perguntava-lhe outro marinheiro. Mas como é que se pode ser marinheiro e, ao mesmo tempo, gostar de águas paradas? Escolhido que tenha sido ser-se marinheiro, há que marear nas águas que o mar traga, que nunca hão-de ser paradas e, muito menos, estagnadas. A escolha é ser-se marinheiro.
Feitos ao mar, pode-se ir a Bolonha? Pois concerteza, mas a Bolonha que se queria era bem condimentada, não esta piza sensaborona que nos calhou. Habilitado com o seu curso intensivo de marketing e imagem, o Zé Mariano nunca mais quis saber o que quer que fosse da qualidade da massa e dos ingredientes. Basta-lhe que a piza pareça luzidia, e se se pouparem uns cobres para ajudar as “reformas” de Sócrates e os coitados dos americanos tanto melhor. Foi assim que Barroso chegou a presidente da Europa e o Zé Mariano não é menos que ele, a não ser talvez no empenho com que Barroso abraçou a militância MRPPista doutros tempos.
E a bisca lambida? Essa é para ser lambida nos senados trazidos pelo RJIES (Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior) que, fazendo de conta, hão-de aplaudir esta Bolonha e todas quantas os senhores do marketing e da propaganda mandarem lamber, a bem das “reformas”. E se forem muitos, mais biscas lambem. Desde que possam preservar a sua parcela de protagonismo, porque não? A pequena dificuldade que subsiste é que pode restar só o papel de bobo da corte.
Tal qual George Clooney”, dizia-nos Alexandre Sousa, “também eu apareço sempre que posso em anúncios de vacas leiteiras". Pudera! Podendo escolher entre vacas leiteiras e vacas escanzeladas ou esbeltas (como lhes chamava um colega mais imaginativo, vai para pouco menos de uma dezena e meia de anos), quem não fica com as leiteiras. E então agora que o leite está caro. Não é por isso que deixa de haver utopias realizáveis. É preciso é batalhar mais por elas. Bolonha é já ali! Os americanos hão-de se envergonhar desta sopa dos pobres e quando isso acontecer restará ao Zé Mariano fazer outro curso intensivo de marketing e propaganda ou pedir ajuda a Barroso, para que lhe arranje um lugar de chefe de gabinete em Bruxelas. Não seria o primeiro e Barroso já não é o Durão que em tempos foi.
O processo em curso nas universidades e politécnicos não é, nem tem de ser, pacífico. “Processos pacíficos são aqueles que defrontamos com o Ministério da Finanças quando não pagamos o IRS”, retorquia Alexandre Sousa, outra vez. É entretanto diferente haver visões diferentes da universidade (e do politécnico) e uns quantos apresentarem-se como senhores do destino das Instituições de Ensino Superior (IES), para mais, conhecendo nós “a verdade” de que são mensageiros.
Como digo, o problema não são as leituras diversas que se façam das IES e dos caminhos a trilhar. Penoso é, isso sim, constatar o "estado gripal do (des)ensino superior", na caracterização de Vasco Eiriz, professor da EEG/Universidade do Minho, citando alguém que não importa trazer para aqui. Penoso é que haja professores a fazer xixi na tampa da sanita. Penoso é que em reuniões dos órgãos académicos herdados do anterior ordenamento jurídico, a grande maioria dos professores universitários mantenha um silêncio estrondoso em relação a tudo que tenha menos natureza de gestão corrente, porque têm medo.
Face ao beco sem saída do presente, qualquer debate só pode resultar rico, por mais caótico que pareça, desde que exista. Que se dane o Zé Mariano, que, ironicamente, até pode ser louvado por tê-lo provocado, e que se dane o Augustus. Que se dane o Augustus, que ainda por cima é daltónico e viu bandeiras vermelhas onde só havia lenços brancos. Se as vacas são escanzeladas, porque há-de o académico fingir que as achas gordas e leiteiras? Deve achá-lo só porque lhe matraqueiam quotidianamente o espírito com discursos da reforma, e das maravilhas que lhe hão-de chegar de Bolonha?
Vivam as vacas leiteiras! Viva a bisca lambida!
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de 08/04/10 do Jornal de Leiria)
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