sexta-feira, setembro 21, 2007

Um Beijo

Estão cem pessoas na sala. No entanto, o seu olhar está colocado em mim. Os meus passos percorrem o longo percurso que me leva ao destino. Passa alguém à minha frente mas fica transparente. Consigo ainda vê-la, consigo ainda sentir o seu olhar sobre mim. Não ando; rastejo até ela. Como um caracol, sou lento mas sei que lá vou chegar.
A sua respiração denuncia o seu medo. Apesar de rápida e forte, tenta esconder-se, como um soldado preparado para tudo mas com uma arma apontada à sua cabeça. Eu sou a arma!
O seu olhar e o meu confrontam-se e a cada passo que eu dou na sua direcção ela dá um atrás. Bastaram três passos para ela estar de costas encostadas à parede, três míseros passos para sair do esconderijo e perceber que a arma não a vai matar. O amor é mais forte que o ódio!
Minha cabeça inclina-se para baixo. Ela é mais baixa, mais frágil. Tenho que estar ao seu nível. Tenho de me redimir perante a deusa. Será ela a minha deusa? Agora é a minha respiração que acelera, que sente medo, mas não o escondo. Quero estar com a respiração dela. Quero harmonia!
Morde os lábios. O meu olhar descai-se do seu olhar para os seus lábios. Fui eu que cedi. Apanhado na armadilha de quem tinha medo, afinal sou eu a presa. Ela é a caçadora. Inclino a cabeça para a direita e aproximo meus lábios. Sinto um arrepio.
Nossos olhos semi-cerram-se. No entanto, não paramos de olhar um para o outro. É dos arrepios certamente. Meus braços aproximam-se da sua cintura e, devagar, minhas mãos pousam no seu corpo, como num gesto de baile cuja bailarina quer ser levantada. Mas, no entanto, isso só se faria com os lábios.
Minhas mãos, aos poucos, contornam seu corpo. Uma mão faz o seu corpo contorcer-se enquanto me aproximo para que o meu corpo toque o dela. As suas mãos sobem pelos meus ombros e agarram o meu cabelo com força. Nada as faria largá-lo. Nada!

Ela fecha os olhos. É o momento…

José Pedro Cadima

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