Ela chegou. Olhou-me. Terá talvez procurado também o meu olhar. Eu escondi-lho. Se ela o visse, veria demais. Ela sentiu-o. Eu senti-o.
As palavras que saíram de minha boca pareciam ter saído da boca de outro, pareciam ter saído da boca de alguém zangado. Ela procurou resguardar-se daquilo que eu sentia.
As palavras saíram da sua boca, mas as lágrimas antecederam-nas e desceram o seu rosto até, por fim, pinga a pinga, caírem sobre os meus pés mesmo antes da primeira palavra ser dita. Ela sentiu-o. Eu sei que o sentiu.
Eu levantei-me e fiz o que julguei que era apropriado fazer: abracei-a. Fiz de conta que não era aquele alguém zangado que antes parecera. Ela sentiu-o. Eu senti-o.
Ela envolveu-me em seus braços, passando-os por baixo dos meus. Apertou-me com força. Encostámos nossos corpos. Estávamos muito próximos um do outro. Percebê-mo-lo, ela e eu.
Beijei seu pescoço. Cheirei seu cabelo. Apertei-a contra mim, como me habituei e queria fazer e desejei poder fazer para sempre.
Já nos tínhamos sentido assim…
Acariciei a sua cara. Sua pele era mais suave que seda. Acariciou-me também. Sentiu a minha barba, o áspero tocar seus dedos. Sim, já nos tínhamos sentido assim.
Cheguei a sorrir. Cheguei a desenhar muito ao de leve em minha cara um encaracolar de meus lábios nos seus extremos. Percebia-se, agora, na sua face o arrependimento de me ter feito zangar. Ela sentiu-o. Eu senti-o.
Percebi, então, mais uma vez, que estava perante a minha musa. Ela, por contraponto, disse-me que, de todos os seus admiradores, eu seria sempre o seu preferido. Eu acreditei. Ela sentiu-0. Eu senti-o.
Cruzei o meu olhar com o dela. Peguei-a pelos braços, puxei-a mais para mim e dei-lhe um beijo que quis que fosse carinhoso e eterno.
Eu senti-o… Tu sentiste-o?
José Pedro Cadima
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