sexta-feira, junho 01, 2007

Descrença

Quem passa fome, tem fé,
fé num futuro melhor, num deus que o ajude.
Quem está à beira da morte, tem esperança,
esperança que deus lhe providencie saúde ou o céu.

Mas eu não tenho fé, não tenho fome,
nem vejo ao longe a morte;
não tenho fome mas preferia ter ou perscrutar a morte,
a ver-te nos braços de outro.

Não imaginas como, nessa altura, quis ser crente,
quis sentir fome, sentir a morte ceifar-me
e ter esperança de ir para outro lugar, para um lugar melhor.
Mas não, não me restou senão ver-te nos braços de outro.

José Pedro Cadima

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