sexta-feira, abril 02, 2010

Em tempo de Páscoa

1. Na Páscoa, faz todo o sentido falar de PECs e de outros pecadilhos, quer dizer, dos múltiplos pecados cometidos pelos mais deserdados dos portugueses, que vêm conduzindo o país à bancarrota e por isso merecem ser condenados a verem diminuídos os subsídios de emprego, as pensões de sobrevivência e os apoios à reinserção social a que podem habilitar-se mas a que, bem vistas as coisas, não têm direito. Andam os Srs. Jorges Jardins, os Srs. Joãos Rendeiros, os Srs. Manuéis Godinhos, os Srs. Armandos Varas, entre alguns poucos portugueses, a estafar-se a trabalhar para uns quantos milhares esbanjarem a alimentar as respectivas famílias e cães e a adquirirem apartamentos que, em vida, na melhor das hipóteses, nunca conseguirão pagar. Não o merecendo, porventura ganharão o céu, dado que Jesus Cristo é todo misericordioso.
2. Sendo Páscoa e, para mais, 6ª feira santa, há, por outro lado, que glorificar igualmente outros abnegados zeladores do bem-estar dos portugueses, como têm sido muitos dos protagonistas políticos da última década, de Durão Barroso e Manuela Ferreira Leite a Santana Lopes e a Teixeira dos Santos e José Sócrates que, conforme sublinhava muito justamente ainda não há muitos dias Vítor Bento, foram/são representantes distintos das “forças políticas mais responsáveis, e que têm tido a principal responsabilidade no governo do actual regime político”. A eles, antes de a quaisquer outros, cumpria assegurar ao PEC recentemente em discussão, “o apoio necessário a garantir-lhe a credibilidade no exterior”, já que, internamente, em razão da liderança de tal gente, o dito PEC e os seus promotores não têm “chance” de reganhar qualquer credibilidade, a não ser junto daqueles portugueses que teimam em fazer caminho de olhos vendados, para não tomarem consciência do precipício para onde caminham.
3. No que me toca, pessoa pouco crente em que me converti, aparte comungar da ideia que “este não é o tempo dos Vencidos da Vida”, vou fugindo como posso ao purgatório das tardes e serões televisivos, onde se glorificam políticos medíocres e fugazes estrelas televisivas, de mais ou menos tenra idade, servidas em doses industriais. Nessa fuga, que já me foi muito mais penosa, ocorre-me recordar o tempo em que via televisão a rodos, onde ponteavam a Pantera Cor-de-Rosa, o Mister Magoo, o Coyote e várias outras personagens de banda desenhada que me deixaram uma enorme saudade; maior ainda quando confronto essas personagens com os bonecos japoneses que pululam nos ecrãs das televisões nas horas em que não passam as praças da alegria, os concursos e “realities shows” e as telenovelas que enxameiam as nossas televisões nos tempos que correm.
4. Falando-se de televisão, e não só, tempo houve em que se dizia que, para esquecer as tristezas quotidianas, os políticos mandavam a televisão servir-nos “fados, Fátimas e futebol”. Nesta altura, tenho como higiénico ver servido um bom jogo de futebol. A alienação aparece-nos bem melhor embalada em concursos de fazer “milionários de bolso” e em telenovelas onde as heroínas têm garantidos os seu príncipes, servidos no final com tostas mistas e “croissants”. Fados, também, se vierem arranjados por cantores e cantadeiras criativas e afinadas. Poderei estar enganado mas as Fátimas parecem-me vender cada vez menos, salvaguardado o caso da Fátima Lopes e de outras costureiras de ambos os géneros. Poderei estar enganado mas mecas sugerem-se-me de crescendo em crescendo os grandes “shoppings” que por aí abundam. Farão a sua época até outros templos lhes tomarem o lugar.
5. Esgotada que seja a época da Páscoa, interrogo-me sobre que outros PECs virão infernizar os cidadãos e cidadãs nacionais, dando por certo que, na religiosidade que os/as caracteriza, já não dispensam pena ou peregrinação. Vale-lhes (nos) os concursos televisivos e telenovelas, mais as praças da alegria, que, de tão tristes, só nos fazem chorar.

J. C.

1 comentário:

J. Cadima Ribeiro disse...

«Caro J.C.
Que bom que é ter novamente notícias suas!
E que bom fazer-me recordar os desenhos animados de que eu tanto gostava: o Coyote. Durante tantos anos a ver o coiote atrás do Bip-Bip e este último, sempre a dar-lhe gozo e a levar a melhor!... Que pena não podermos fazer o mesmo com os nossos políticos!...
Quanto aos "milionários de bolso", é mesmo assim, actualmente. Quero eu dizer que, na actualidade o que os portugueses ganham nos concursos são apenas trocos para encher os seus bolsos. Já não é como antigamente!... E alguns, depois de suarem muito, até acabam por não levar trocos alguns para casa!...
Mas os portugueses fazem tudo para aparecer na televisão, não fazem?...»

(reprodução de comentário que nos chegou por via alternativa)