segunda-feira, novembro 12, 2007

Minha Querida Helena

As horas passam,
o tempo voa,
e eu continuo aqui
sem amor,
sem ti.

Só no meu coração
te vejo,
te beijo
e te abraço.”
(Cadima, José Pedro; 2004).

Leio este versos, releio-os e pergunto-me: do que dizem, referido a um tempo que é passado mas ainda presente, o que sobrou para o dia de hoje? Transfigurando-me na pessoa do autor – e tal não se me afigura nada complicado - quero eu dizer:

As horas passam,
nalgumas ocasiões mais céleres que noutras,
e eu continuo aqui
sem amor,
e sem ti.

O meu coração
ainda te pressente,
os teus beijos são doces recordações
e a lembrança do teu xicoração sugere-se-me uma expressão de afecto
que resistirá a todas as desventuras deste romance.

Entretanto, começo a descrer
da força que parecia alimentar esse amor.
E descreio mais ainda
que os beijos que me davas
tivessem génese inteira no teu coração
porque, se assim fora, não te teria sido possível ignorar
durante todas estas semanas o meu lancinante grito de dor.

Duvido, bem assim, que o nosso xicoração tivesse o mesmo significado de entrega para ti que para mim porque, se assim fosse, ter-me-ias estendido o braço quando pressentiste que começava a afogar-me em desespero e em solidão. Não o fizeste e nada disso pode ser lido como expressão de acaso. Não o quiseste fazer. É tudo!
Repara: poderia ter-me afogado do mesmo modo. Mas terias tentado; terias dado sinal de humanidade e terias afirmado uma memória de afectividade, de entrega que estaria para além dos desencontros de percursos cruzados que não foram capazes de fazer do lugar do encontro o lugar de uma vida plenamente preenchida.
Posso estar a ser injusto contigo como, noutras alturas, tu terás sido injusta comigo. A verdade, porém, é que, nesta altura, descreio que tudo não tivesse passado de uma desatenção ou deficiência de percepção da tua parte do apelo de socorro que te dirigi repetidamente. Face à gritante evidência dos dados que estão à vista, manda a razoabilidade que conclua que, simplesmente, me ignoraste.
Minha querida Helena: a minha ferida é profunda; talvez não tão profunda, todavia, quanto o meu desapontamento.
Um beijo para ti ou, talvez, um até sempre.

Braga, 1 de Setembro de 2004

José Cadima

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