Não tendo cedido perante o cansaço, estou a morrer de saudades tuas. Faltam-me as tuas palavras de conforto, falha-me o sossego da tua presença, falta-me o descanso do teu corpo, falta-me a alegria do teu sorriso, falha-me a esperança do teu amor. Poderá alguém sobreviver em condições tão extremas de carência? Não creio.
Responder-me-ás: culpa tua! Contrapor-te-ei: culpa minha que nunca soube lidar com o amor e, querendo conciliar o que hoje sei inconciliável (valores básicos de respeito pessoal, de dignidade humana, de tolerância ante expectativas de um projecto de vida mais feliz), perdi o direito a ser amado. Aprendi-o de experiência própria. Aprendi-o tardiamente por me recusar a acreditar que um sentimento como o amor não inspirava tolerância e respeito pela nobreza desse sentimento.
Aprendi-o em vésperas de me esgotar de saudades: saudades de uma pequerrucha plena de energia e a transbordar carinhos; saudades de uma poetisa que cantava o rio, os pássaros, as flores e a paixão que a embalava. Percebi-o quando o meu amor deixou que se instalasse no seu olhar uma sombra cinzenta, a poesia deu lugar a um discurso arrastado, de desapontamento, e nem o rio, nem as flores, nem o chilrear dos pássaros foram capazes de voltar a levar-lhe inspiração e sonho. Nessa altura, perdi-te. Desde essa altura, fiquei também eu condenado a esvair-me, senão em desencanto e desesperança, em saudades.
Chegados a este termo, imagino-me a recomeçar tudo de novo, desde o primeiro olhar, o primeiro beijo, e culpo-me por não ter sabido guiar-te por trilhos mais seguros e mais portadores de futuro; culpo-me por não ter sabido preservar-te a energia que usavas transportar e os carinhos de que transbordavas. Pensando em tudo isso, e muitas coisas mais, enquanto me culpo de não ter sabido preservar o teu sorriso, vou morrendo de saudades tuas.
Braga, 22 de Agosto de 2004
José Cadima
Responder-me-ás: culpa tua! Contrapor-te-ei: culpa minha que nunca soube lidar com o amor e, querendo conciliar o que hoje sei inconciliável (valores básicos de respeito pessoal, de dignidade humana, de tolerância ante expectativas de um projecto de vida mais feliz), perdi o direito a ser amado. Aprendi-o de experiência própria. Aprendi-o tardiamente por me recusar a acreditar que um sentimento como o amor não inspirava tolerância e respeito pela nobreza desse sentimento.
Aprendi-o em vésperas de me esgotar de saudades: saudades de uma pequerrucha plena de energia e a transbordar carinhos; saudades de uma poetisa que cantava o rio, os pássaros, as flores e a paixão que a embalava. Percebi-o quando o meu amor deixou que se instalasse no seu olhar uma sombra cinzenta, a poesia deu lugar a um discurso arrastado, de desapontamento, e nem o rio, nem as flores, nem o chilrear dos pássaros foram capazes de voltar a levar-lhe inspiração e sonho. Nessa altura, perdi-te. Desde essa altura, fiquei também eu condenado a esvair-me, senão em desencanto e desesperança, em saudades.
Chegados a este termo, imagino-me a recomeçar tudo de novo, desde o primeiro olhar, o primeiro beijo, e culpo-me por não ter sabido guiar-te por trilhos mais seguros e mais portadores de futuro; culpo-me por não ter sabido preservar-te a energia que usavas transportar e os carinhos de que transbordavas. Pensando em tudo isso, e muitas coisas mais, enquanto me culpo de não ter sabido preservar o teu sorriso, vou morrendo de saudades tuas.
Braga, 22 de Agosto de 2004
José Cadima
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