Queria pedir-te alguma sanidade, pois é isso que mais me falta. A paz no mundo não me aquece nem me arrefece. É apenas uma utopia que muitos desejam sem sequer saber porquê. A guerra não é aqui; não vai cá chegar.
Quereria pedir-te alguma noção de tudo o que se passa. Sinto-me perdido; sinto-o de verdade. Não vejo dia em que não anoiteça, nem noite em que não veja o sol nascer. Todo o meu corpo suporta este cansaço, queixando-se apenas da saudade dos lençóis e não da cama.
Não te peço nada disso, por mais poder que tenhas. Não fui suficiente bom menino e castiguei o meu corpo com todas estas penosas noções. Em breve emergirá a verdade de tudo. Em breve perderei o resto da sanidade que me resta.
Não sei em que ano estamos. Talvez seja o ano dois mil ou o quatro mil. Pouco importa. A esperança média de vida não chega a um século e o ano faz apenas parte de uma data marcada para efeitos gerais. Também não me lembro do dia em que faço anos e já lá vão tantos que nem a minha idade sei. Pouco me importa se sou adolescente, adulto ou idoso. Continuo a ser eu. Pouco me importa se faço anos em Janeiro ou Agosto. Continuo a ter a mesma mãe.
Talvez o Pai Natal me pudesse dar a entender todas estas coisas e porque é que as marcamos. Talvez, nessas circunstâncias, também me possa dar a vontade de saber as datas que realmente importam: em que dia e mês nasci; em que ano estamos; entre outras. Talvez, quando lho perguntar, mo possa dizer.
Tamanho foi o meu desinteresse para com a vida que já não sei se isto é viver. Sei que se parece com tal: respiro, mexo-me, alimento-me, vejo, oiço e agora até escrevo à sua pessoa, que tão pouca gente sabe porque nos visita duas vezes por ano, uma vestida de velho outra de coelho.
Já lhe pedi tantas coisas. Sei que foram mais aquelas em que me deu algo. Ter tanto fez-me mal. Talvez a culpa seja sua. Mas também outros têm tanto e ainda lhes dão mais e não perdem o interesse em receber. Talvez tudo isto seja apenas fraqueza minha.
O meu desinteresse arrasta-se tanto que além das datas do meu nascimento, o ano em que estamos, a idade do senhor que ninguém conhece, não sei também identificar muitos dos feriados patrióticos que se avizinham aí. Serei por isso um traidor da pátria? E se o for? Serei traidor de mim mesmo por não me lembrar do dia em que nasci? Que importa!? Talvez não importe. Não tenho datas. Não sei o nome das pessoas que conheço, e escrevo uma carta à única pessoa que ainda me visita.
Já não sei as datas e confesso-lhe que se não tivesse ouvido um passarinho cantar que amanhã era dia vinte cinco, e feriado, nunca lhe escreveria esta carta interesseira a pedir que neste Abril me traga um pouco de sanidade.
Quereria pedir-te alguma noção de tudo o que se passa. Sinto-me perdido; sinto-o de verdade. Não vejo dia em que não anoiteça, nem noite em que não veja o sol nascer. Todo o meu corpo suporta este cansaço, queixando-se apenas da saudade dos lençóis e não da cama.
Não te peço nada disso, por mais poder que tenhas. Não fui suficiente bom menino e castiguei o meu corpo com todas estas penosas noções. Em breve emergirá a verdade de tudo. Em breve perderei o resto da sanidade que me resta.
Não sei em que ano estamos. Talvez seja o ano dois mil ou o quatro mil. Pouco importa. A esperança média de vida não chega a um século e o ano faz apenas parte de uma data marcada para efeitos gerais. Também não me lembro do dia em que faço anos e já lá vão tantos que nem a minha idade sei. Pouco me importa se sou adolescente, adulto ou idoso. Continuo a ser eu. Pouco me importa se faço anos em Janeiro ou Agosto. Continuo a ter a mesma mãe.
Talvez o Pai Natal me pudesse dar a entender todas estas coisas e porque é que as marcamos. Talvez, nessas circunstâncias, também me possa dar a vontade de saber as datas que realmente importam: em que dia e mês nasci; em que ano estamos; entre outras. Talvez, quando lho perguntar, mo possa dizer.
Tamanho foi o meu desinteresse para com a vida que já não sei se isto é viver. Sei que se parece com tal: respiro, mexo-me, alimento-me, vejo, oiço e agora até escrevo à sua pessoa, que tão pouca gente sabe porque nos visita duas vezes por ano, uma vestida de velho outra de coelho.
Já lhe pedi tantas coisas. Sei que foram mais aquelas em que me deu algo. Ter tanto fez-me mal. Talvez a culpa seja sua. Mas também outros têm tanto e ainda lhes dão mais e não perdem o interesse em receber. Talvez tudo isto seja apenas fraqueza minha.
O meu desinteresse arrasta-se tanto que além das datas do meu nascimento, o ano em que estamos, a idade do senhor que ninguém conhece, não sei também identificar muitos dos feriados patrióticos que se avizinham aí. Serei por isso um traidor da pátria? E se o for? Serei traidor de mim mesmo por não me lembrar do dia em que nasci? Que importa!? Talvez não importe. Não tenho datas. Não sei o nome das pessoas que conheço, e escrevo uma carta à única pessoa que ainda me visita.
Já não sei as datas e confesso-lhe que se não tivesse ouvido um passarinho cantar que amanhã era dia vinte cinco, e feriado, nunca lhe escreveria esta carta interesseira a pedir que neste Abril me traga um pouco de sanidade.
José Pedro Cadima (2006)
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