Há ocasiões em que sou levado a
sentir-me o mais infeliz dos seres, mesmo sabendo que mundo fora, neste país, nesta cidade há
pessoas que não têm asseguradas condições
básicas de sobrevivência: pão, paz, habitação.
Angústia, ansiedade, insónia, são
três das dimensões que corporizam o desconforto que me atinge, isto é, que me
agride.
Interrogo-me. Interrogo-me outra
vez e não alcanço resposta. Porque será que tenho que cruzar todas as etapas
deste calvário se nem sequer alimento a esperança de alcançar a redenção final,
dos justos, como alguém diria?
Um existir sofrido; poucas vezes
sereno. Vale a pena uma existência assim? E porquê se não regateio entrega, sacrifício
até, algumas vezes.
Estado de alma ou alma sem
estado, sem estância segura, sem lugar onde viver em paz? Será tempo de abandonar
esta luta ou, antes, de abraçá-la com mais força, na esperança derradeira de atingir
o oásis, um qualquer oásis, assumindo que os haja? E se não houver?
Há ocasiões em que sinto,
acredito que a quietude, o repouso de espírito, a paz exterior e interior são possíveis. Há ocasiões em que sinto que há-de haver razão para esta travessia
que faço, quer dizer, que julgo que o caminho que percorro tem razão de ser, que o meu
esforço, a minha entrega valem a pena, que a paz que tão ansiosamente procuro não
é apenas uma miragem, como têm sido os oásis que, ocasionalmente, tenho perscrutado
no horizonte.
Pobre da minha mente, pobre de
mim que já não vislumbro a diferença entre realidade e sonho, por ser pesadelo
continuado o quotidiano. Destino? Sorte? Mas porque hei-de sofrer de tamanha mal
sorte?
Há ocasiões em que me interrogo e
não encontro resposta alguma, sendo certo que não é a ausência de respostas que
me desespera mas, antes, esta intranquilidade que me agride, esta sensação de
caminho conducente a nenhures que percorro, esta condenação ao purgatório que
me terá sido destinada.
Um existir sofrido; raras vezes
sereno.
K
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