Minha Querida Helena,
Sinto-te de novo longe. Não
que procures tomar distância face a este teu admirador mas, simplesmente, no
sentido em me falta a tua presença e o teu carinho. Coisas de alguém carente
que passa o comum dos dias correndo entre lugares e/ou entre coisas e gostaria,
antes, de ter ocasião para tomar o sabor de uma leitura descontraída, de uma
conversa com um amigo ou de um olhar do mar, esquecido de que existe outro
ritmo que não o das ondas num dia de acalmia.
Para piorar as coisas, tenho a
sensação de que gasto o tempo a fazer coisa nenhuma, isto é, avaliando os
resultados de um dia, após outro, sugere-se-me ter produzido coisa nenhuma.
Pelo menos, a revisão da tradução para inglês do texto que encetei na 2ª feira não
progrediu ainda, e é já o termo de 4ª feira. Entretanto, tarefas planeadas para
lhe sucederem aguardam, sendo que tarefas há que se mantêm em agenda desde o
meio do Verão, não sendo certo ainda o momento em que terão a sua vez.
Nalguma dimensão, conjugar-se-ão
para este efeito uma ineficiente gestão do tempo, uma deplorável perda de
energia, quando confrontado com melhores dias, e uma manifesta incapacidade de
dizer não a solicitações externas que encaixam nas prioridades de outros mas
não nas que eu deveria ser capaz de definir para mim. Pelo menos estas razões,
digo. Falta-me tempo para mim (que gostaria de partilhar contigo) e sobra-me
tempo usado a responder a prioridades alheias ou, nalgumas situações, a reagir
a coisa nenhuma.
Pelo que digo, não estranharás
que te sinta longe, como não te surpreenderá a saudade que sinto dos teus
braços. Não falo do repouso do guerreiro já que, se o fui nalguma ocasião
passada, não me reconheço nessa figura na actualidade. Refiro-me, tão só, ao
homem fatigado e descrente de hoje que reclama a urgência de um porto de
abrigo.
José Cadima
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