quinta-feira, janeiro 30, 2025

Minha Querida Helena (52)

Minha Querida Helena,

Sinto-te de novo longe. Não que procures tomar distância face a este teu admirador mas, simplesmente, no sentido em me falta a tua presença e o teu carinho. Coisas de alguém carente que passa o comum dos dias correndo entre lugares e/ou entre coisas e gostaria, antes, de ter ocasião para tomar o sabor de uma leitura descontraída, de uma conversa com um amigo ou de um olhar do mar, esquecido de que existe outro ritmo que não o das ondas num dia de acalmia.

Para piorar as coisas, tenho a sensação de que gasto o tempo a fazer coisa nenhuma, isto é, avaliando os resultados de um dia, após outro, sugere-se-me ter produzido coisa nenhuma. Pelo menos, a revisão da tradução para inglês do texto que encetei na 2ª feira não progrediu ainda, e é já o termo de 4ª feira. Entretanto, tarefas planeadas para lhe sucederem aguardam, sendo que tarefas há que se mantêm em agenda desde o meio do Verão, não sendo certo ainda o momento em que terão a sua vez.

Nalguma dimensão, conjugar-se-ão para este efeito uma ineficiente gestão do tempo, uma deplorável perda de energia, quando confrontado com melhores dias, e uma manifesta incapacidade de dizer não a solicitações externas que encaixam nas prioridades de outros mas não nas que eu deveria ser capaz de definir para mim. Pelo menos estas razões, digo. Falta-me tempo para mim (que gostaria de partilhar contigo) e sobra-me tempo usado a responder a prioridades alheias ou, nalgumas situações, a reagir a coisa nenhuma.

Pelo que digo, não estranharás que te sinta longe, como não te surpreenderá a saudade que sinto dos teus braços. Não falo do repouso do guerreiro já que, se o fui nalguma ocasião passada, não me reconheço nessa figura na actualidade. Refiro-me, tão só, ao homem fatigado e descrente de hoje que reclama a urgência de um porto de abrigo.


José Cadima

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