segunda-feira, janeiro 27, 2025

Minha Querida Helena (49)

Minha Querida Helena,

A correria em que tenho andado não me tem dado tempo para um momento de intimidade contigo, aqui ao computador. Não se poderá dizer que tenha usado o meu tempo de forma muito produtiva, de trabalho que se veja, mas o que é seguro é que o tempo me tem escorrido por entre os dedos. Quando aqui chego, o dia vai já demasiado adiantado ou eu estou saturado demais para que as palavras fluam e o raciocínio se ofereça escorreito. Aliás, nalgumas das linhas que te dirigi em ocasiões passadas isso é perceptível nas gralhas que restam ou nas palavras que se perdem.

Lutando contra este andar dos dias, estou agora à procura da serenidade que me falta, recordando as palavras que esta tarde me dirigiste, pelo telefone, e o apelo que nelas se percebia. Recordo isso e lembro a tarde absurda que passei em tua casa no domingo, depois de quase teres recusado abrir-me a porta. O absurdo resulta do estado psicológico em que fui encontrar-te, que só não me apanhou de todo desprevenido porque me deparei antes com algo próximo. Entretanto, o inesperado do sucedido deixou-me tão desamparado quanto outras situações que atravessei.

Dizes tu, minha querida, que me adoras. Mas, pergunto eu: se me adoras, não tens aí uma razão forte para lutares contra as tuas fraquezas físicas e psicológicas, ao invés de soçobrares logo que a porta se fecha nas minhas costas? Se me adoras, porque te sinto eu tão distante, conforte te tenho dito nas minhas cartas (não querendo sequer invocar o que sucedeu em Agosto)?

Eu também te adoro e disso te vou dando notícia em todas e em cada uma das cartas que te escrevo, e na vontade de que te dou notícia de te ver assumir o teu dia-à-dia com vontade e esperança. Preciso dessa tua garra e esperança para que eu possa, igualmente, agarrar a vida com algum entusiasmo. Se me falhas, como me faltaste no domingo pp., falha-me a alegria que me resta e sobra-me o sentido de não deixar que mais ninguém (especialmente, os meus filhos) me acuse de não ter alcançado o que podia alcançar porque eu lhe faltei. Não é justificação para uma vida, no entanto. Assim o entendo!

Vêm até mim, meu amor. Abraça-me, forte!


José Cadima 

Sem comentários: