Minha Querida Helena,
“Olá menina ... Faz-me rir e eu prometo que
não te farei chorar”, clamava eu há um par de dias, e zás: perdi, uma vez mais,
o contacto contigo. E o pior é que, se eu não tenho forma de te contactar,
contigo a situação é ainda mais extrema em razão da ausência de cabinas
telefónicas nas tuas redondezas, próximas ou longínquas. Não fora essa
realidade infeliz e, seguramente, teria tido o telefonema que prometeste
fazer-me na 6ª feira p.p.
À mingua das tuas palavras –
em hora em que já descreio que desejes presentear-me com o teu sorriso – vou
sonhando que, numa das minhas deambulações sem destino certo, o acaso me
atravesse no teu caminho, em ocasião não cruelmente distante. Terá, obviamente,
que ser um acaso mais piedoso que aquele que provocou a recente avaria do teu
telemóvel. Digo-o, pois sei que, nesta matéria de acasos, há-os de diferente
índole.
Ensaiando um método
razoavelmente seguro de olvidar este infortúnio que nos mantém incomunicáveis,
refugio-me no trabalho: na tese cuja leitura já devia ter concluído; no artigo
de homenagem ao orientador da minha tese de doutoramento e inspirador do
académico que tento ser; na resenha de notícias de fim-de-semana com que procuro manter-me a par
do que vai no mundo; nos poemas de adolescência do meu filho cujo trabalho de
editor ensaio, interrogando-me sobre quão longe devo levar o embelezamento
formal em detrimento da inocência que esteve na sua génese.
Congratulo-me por me não
falhar o trabalho, mesmo quando, em cedência embaraçosa ao sentimento, retorno
a estas cartas que, sendo de amor, se sugerem igualmente um refúgio. Parco
substituto do sorriso porque desespero; minguada compensação do beijo de que
sinto falta.
Quererás tu constituir-te
em etérea musa inspiradora? Ou,
recuperando o mote de um dos versos do meu filho, tomas essa distância apenas
porque és má?
José Cadima
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