Minha Querida Helena,
Recuperada alguma energia, retorno à tua companhia e à expectativa de que me faças chegar sinais de vida. Sinais de vida, meu amor. É só isso que te peço para trazer algum descanso ao meu coração. Nem juras de amor, nem promessas de eterna fidelidade, nem sequer um aceno de esperança. Apenas um sinal de vida, mesmo que esboçado.
Sei-te capaz de crueldade, particularmente contigo própria; sei-te magoada comigo, fruto de muitos desencontros e visões distintas de várias coisas da vida; se isso te der conforto, podes falar-me do(s) amor(es) reencontrado(s) e de quanto ele(s) te dá(dão) que eu não fui alguma vez capaz de te oferecer; fala-me de como foi bom voltares a sentir um frémito no corpo e uma ânsia de prazer sem limites. Faz-me chegar, entretanto, um sinal de vida, mesmo que só esboçado.
Sem ti, nestes tempos de retiro e desencanto, ultimei a revisão dos versos do José Pedro; uma revisão derradeira. Fico razoavelmente satisfeito com o trabalho concretizado, sendo certo que a qualidade do trabalho do miúdo merece bem esta minha pequena ajuda. Fiz o que sabia. Fico tranquilo, aproximada a questão a partir da minha condição de pai e tutor, que cumpro sem jeito e com sacrifício.
E tu, meu amor não retribuído?
Retomaste a escrita do teu romance? Retornaste aos teus poemas, cantando amores
perdidos e reencontrados? Escrevestes poemas de saudade? Foste à caça ou, tão
só, observar os pássaros? E terás, por mero acaso, picado o rabo numa dessas
saídas? Cruel, como nalgumas ocasiões só tu sabes ser, grita-me que sim e liberta nesse gesto toda a raiva que te
move. Liberta a tua raiva e, com ela, faz-me chegar um sinal de vida, mesmo que
apenas esboçado.
José Cadima
Sem comentários:
Enviar um comentário