Minha Querida Helena,
Espero que te encontres bem.
Após alguns poucos dias de silêncio, retomo o contacto na expectativa de não te maçar excessivamente. Aliás, com esta ausência quis evitar que as minhas cartas te cansassem como te cansou o meu amor. Infelizmente, não estou seguro de ser bem sucedido. Não me privarás dessa esperança!
Sem as tuas cartas a minha solidão foi (ainda) mais completa. Não te digo, todavia, nada que tu não saibas; não digo nada que a minha pequerrucha não conheça bem. Falo, no entanto, da minha pequerrucha e de ninguém mais... envolto num mar de saudades tão grande quanto o oceano que algumas vezes mirámos aconchegados um no outro. Por onde andará a pequerrucha que me enche de saudades?
Privar-me das tuas cartas foi também o modo que encontrei de testar a minha resistência à dor ou, se quiseres, um modo de auto-flagelação. Sigo-te nisso, de alguma forma: disse-te vezes sem conta que não entendia o gozo que parecias retirar do sofrimento que, por vezes – vezes demasiadas - te aparecia espelhado no rosto e que tanto me afligia. Pois bem, resolvi experimentar a tua receita. Dessa experiência não retirei, entretanto, mais que amargura e dor, pelo que mantenho a afirmação da falta de sentido dessa auto-penalização.
Volto ao teu contacto, meu
amor, mas sinto-me muito debilitado. Daí que as minhas palavras não possam
deixar de te soar arrastadas e eu seja incapaz de te assegurar por quanto tempo
mais o alento me assistirá. Dá-me energia a expectativa de que as leias, mas é
quase só isso que me assiste, e, concordarás, é parco para alimentar uma alma
sequiosa da sua alma gémea.
Minha querida Helena, ... am...
José Cadima
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