Minha Querida Helena,
Pronto, estou de volta. Estou
de volta às rotinas, que nem sempre são rotinas. Estou de volta à minha
pacatez, que não o é nada à medida dos meus anseios. Desafortunadamente, não
estou de volta para ti, pois parecemos irreparavelmente desencontrados. Pelo
menos assim se me oferece. Desencontrados, quer dizer, sem tempo nem espaço
para um abraço sem tempo, sem ocasião nem lugar para um beijo do tamanho do
mundo.
Pronto, estou de regresso ao
trabalho, que é esforço e é evasão e, desse jeito, faz com que os meus dias se
ofereçam menos penosos, na falta de ti. Anima-me a esperança de que amanhã seja
diferente, de que amanhã encontremos o tempo e o espaço para um momento de
reencontro, quer dizer, de comunhão íntima. Move-me a esperança, digo, até à
prova do dia seguinte, de um reencontro adiado. Háde ser no dia que se
sucederá! Será depois de amanhã, será!
Pronto, estou de regresso ao
meu lugar de confidência, à minha companhia segura de horas de solidão e de
desânimo, e de outras menos desafortunadas onde se tece a esperança de um
amanhã que sorri ou que, de algum modo, nos deixa espaço para sorrirmos. É
também um lugar de encontro: permite que me encontro comigo, com as minhas
ânsias e desesperos, mas não me deixa lugar para o reencontro com a paz
tranquila que só tu és capaz de dar-me.
Pronto, estou de volta à
música que me faz companhia e às notícias que me forçam a lembrar que existe
mais mundo que aquele que descortino da minha janela ou que pressinto nas
pessoas com que me cruzo, e me fazem sentir mais desconfortável, mais infeliz
por darem conta de vidas mais tristes que a triste vida que levo. Conforta-me
alguma música que ouço e conforta-me pensar que nem tudo é tão triste, tão
medíocre como o que me chega nas notícias que ouço. Conforta-me pensar que
amanhã, porventura, vou encontrar refúgio nos teus braços.
Pronto, estou de volta aos
meus pensamentos, às minhas frustrações e esperanças. Frustração por ficar nas
minhas acções muito aquém do que me daria alegria realizar. Esperança de poder
correr para os teus braços amanhã, já que hoje não pôde ser.
José Cadima
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