quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Minha Querida Helena (58)

Minha Querida Helena,

Pronto, estou de volta. Estou de volta às rotinas, que nem sempre são rotinas. Estou de volta à minha pacatez, que não o é nada à medida dos meus anseios. Desafortunadamente, não estou de volta para ti, pois parecemos irreparavelmente desencontrados. Pelo menos assim se me oferece. Desencontrados, quer dizer, sem tempo nem espaço para um abraço sem tempo, sem ocasião nem lugar para um beijo do tamanho do mundo.

Pronto, estou de regresso ao trabalho, que é esforço e é evasão e, desse jeito, faz com que os meus dias se ofereçam menos penosos, na falta de ti. Anima-me a esperança de que amanhã seja diferente, de que amanhã encontremos o tempo e o espaço para um momento de reencontro, quer dizer, de comunhão íntima. Move-me a esperança, digo, até à prova do dia seguinte, de um reencontro adiado. Háde ser no dia que se sucederá! Será depois de amanhã, será!

Pronto, estou de regresso ao meu lugar de confidência, à minha companhia segura de horas de solidão e de desânimo, e de outras menos desafortunadas onde se tece a esperança de um amanhã que sorri ou que, de algum modo, nos deixa espaço para sorrirmos. É também um lugar de encontro: permite que me encontro comigo, com as minhas ânsias e desesperos, mas não me deixa lugar para o reencontro com a paz tranquila que só tu és capaz de dar-me.

Pronto, estou de volta à música que me faz companhia e às notícias que me forçam a lembrar que existe mais mundo que aquele que descortino da minha janela ou que pressinto nas pessoas com que me cruzo, e me fazem sentir mais desconfortável, mais infeliz por darem conta de vidas mais tristes que a triste vida que levo. Conforta-me alguma música que ouço e conforta-me pensar que nem tudo é tão triste, tão medíocre como o que me chega nas notícias que ouço. Conforta-me pensar que amanhã, porventura, vou encontrar refúgio nos teus braços.

Pronto, estou de volta aos meus pensamentos, às minhas frustrações e esperanças. Frustração por ficar nas minhas acções muito aquém do que me daria alegria realizar. Esperança de poder correr para os teus braços amanhã, já que hoje não pôde ser.


José Cadima

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