quinta-feira, setembro 27, 2012

Lembrando: "À chuva"

Sempre a meu lado,
vais à chuva,
sempre à chuva!

E eu, pelo guarda-chuva
coberto e liberto
e, no entanto, preocupado.
Porque vais à chuva?

José Pedro Cadima

sábado, setembro 22, 2012

Estou por aqui, ainda

Estou por aqui,
maugrado as minhas poucas qualidades,
pese os meus imensos defeitos.
Estou por aqui, entorpecido pela tua ausência,
diminuído pela falta que me fazes.

Faz-me falta sentir os teus dedos
entrelaçados nos meus.
Faltam-me os teus lábios húmidos.
Falta-me o abraço capaz de transportar-me
para junto do arco-íris,
por instantes, que valem uma vida.

Caio em mim, retorno à Terra,
e tomo consciência de quanto estás longe,
levada pela alienação do presente,
a ânsia de futuro,
o trabalho, a vida,
as pequenas coisas que nos desgastam
e nos atiram para longe do que mais importa.
 
Fico triste, pressinto-te triste,
mas incapaz de entender a luta que travo
para não defraudar nem a ti,
nem a outros, nem a mim,
num exercício de impossibilidades
de que sou consciente mas me recuso a admitir.
Sei-te triste.
Sei-te a reclamar que nunca mais aprendo,
mas foi exactamente isso que me levou a ti,
que agora sei longe.

Interrogo-me sobre o que te posso pedir.
Pergunto-me se vale a pena
voltar a fazer o caminho
que me levou a ti
e que me levou, até, por instantes,
a repousar, contigo, naquele ponto em que o arco-íris
toca, muito levemente, a terra.
 
Não sei…Não sei, não.
Tu saberás, porventura.
Tu lerás nas linhas da tua própria mão
o meu devir.
A mim, restar-me-á tentar lê-lo nos teus olhos.
Até lá, estou por aqui.

K

Fortaleza entreaberta

[


[Foto da autoria de C.P.]

Estou por aqui

Estou por aqui
Sentindo-te como se...
Nos meus dedos
Na minha boca... tocasses
Caio em mim
E sinto-te longe,
do outro lado do mundo...

K

terça-feira, setembro 18, 2012

Janela indiscreta

[Foto da autoria de C.P.]

Voltarei…

Não dormi bem hoje,
Ontem também não.
Há períodos em que fico,
noite adentro, a memorizar as desgraças do dia,
os desencontros da vida.
Quanto maior é o esforço que faço
para encontrar o meu espaço de tranquilidade,
para te “apanhar”,
mais sensível fico e mais as noites me viram pesadelo.
O dia também não começou bem.
Depois da noite, veio o dia.
Depois do pesadelo da noite,
deparei-me com um dia de pesadelo.
E eu que não busco outra coisa senão tranquilidade.
Depois de dia desencontrado,
fico obrigado a clamar por compreensão,
a quem me queira compreender,
fico na esperança do reencontro
depois do desencontro.
Ingrata posição esta de ser culpado
de culpa que me escapa,
culpado de não encontrar saída para um problema
cuja origem tenho dificuldade em descortinar.
Neste turbilhão, faço asneiras, oh se faço,
dou respostas que não eram pedidas,
desencontro-me até de mim,
que, no final, é o que mais me preocupa
e será, eventualmente,  a razão primeira
das insónias que me atingem
Não há volta  a dar-lhe.
Dormi mal, e essa é realidade incontornável,
tão incontornável quanto o foi a semana
emocionalmente desgastante que vivi,
pese não ter feito nada que a antecipasse,
pese a procura de encontro que activamente prossigo.
Voltarei, estou seguro, a recuperar e a seguir o meu caminho,
qualquer que ele seja.
Voltarei a ter uma noite repousada
um qualquer destes dias.
Voltarei…

José Cadima

sexta-feira, setembro 14, 2012

Urso de peluche

Sou o teu urso de peluche,
o cãozinho que te espera,
agitando a cauda, no teu regresso.
Sou o saco de boxe,
onde descarregas a tua ira e frustração
depois de um dia  desapiedado.
Sou o possível e a impossibilidade.
O que serei amanhã, não sei.
Porventura, serei uma silhueta ao longe,
uma memória
ou o cãozinho que te aguarda,
agitando a cauda.

Anoto as tuas palavras,
registo os teus gestos,
interrogo-me.
Feito de moléculas quentes,
e de átomos radiantes,
não é fácil manter-me gelado, hirto.
Os gestos, são muito mais que as palavras.
Urso de peluche desgastado.
Cãozinho de cauda hirta.
Saco de boxe convertido em malho de aço
que não serve mais
para descarregar iras e frustrações acumuladas.

Sei-te vítima do mesmo mar encapelado
que me arrasta.
Sei-te tão incapaz quanto eu
de entender a injustiça, a crueldade
que por aí grassa.
Sei que também tu precisas
de algo que te aqueça as noites longas que estão aí,
urso de peluche
ou peluche assumindo qualquer outra forma.

Compreendo, tento entender.
Tento pôr-me na pele de outro,
mais ou menos de peluche,
mas também eu preciso de calor, às vezes,
sobretudo quando o gelo me penetra os ossos desgastados,
quando ser urso de peluche soa mais falso,
à força do desgaste da pelúcia, da pele, até.
Nessa altura, também eu desejo abraçar outra pele,
entrelaçá-la, confundir-me com ela
de modo tão estreito que não deem por mim.
É outra forma de partir.
É outro modo de chegar.

Sou o teu urso de peluche,
o cãozinho que te espera,
agitando a cauda.
Até quando não sei.
Amanhã, serei,
porventura, silhueta ao longe
ou apenas memória.

K

segunda-feira, setembro 10, 2012

Sopa de palavras

Só em sonho te tenho aqui.
Só em sonho…
Há quem diga que “nos sonhos,
como no amor, nada é impossível”.
Há quem diga,
e o tempo passa.
Só no meu coração te encontro,
Pobre de mim,
duplamente, pobre de mim que já não vislumbro
diferença entre realidade e sonho,
Porque hei-de padecer
de tal sorte?
Sonhar é cada vez mais difícil.
Se “amar-te tem sido um sonho”,
a cada passo, os pesadelos
sobrepõem-se-me aos sonhos.
No meio desse turbilhão,
amar(-te) é seguro que quero,
amar(-te), “e, eventualmente, viver”.
Submergido num mar de angústia,
abafado pela ansiedade,
refém de um corpo cansado,
não descortino escape possível.
Sonhar é cada vez mais penoso.

K

domingo, setembro 09, 2012

"Há ocasiões em que me interrogo e ..."

"Há ocasiões em que me interrogo e não encontro resposta alguma, sendo certo que não é a ausência de respostas que me desespera mas, antes, esta intranquilidade que me agride."

K

quarta-feira, setembro 05, 2012

O vermelho rubro das papoilas

"Saudades tenho eu 
do tempo em que até um singelo campo 
polvilhado por papoilas 
se nos oferecia como um campo de morangos para sempre. 
Que saudades tenho de olhar, 
sem pressas, o vermelho rubro das papoilas." 

 José Cadima

domingo, setembro 02, 2012

Ramo de flores


Numa escala (2)

Numa escala de zero a dez,
quanto te assustaria
se te escrevesse um poema?
E se fossem cem?

Achar-me-ias tolo?
Considerar-me-ias obsessivo
ou chamar-me-ias “poeta”?

Numa escala de zero a vinte,
quanto te afastarias de mim
se te escrevesse um romance?

Incomodar-te-ia a minha confissão de amor?
Ser-te-ia pesada a minha presença
ou achar-me-ias “romântico”?

Numa escala só tua,
quanto te intimida o meu contacto físico?
E quanto temes um beijo meu?

José Pedro Cadima