Imagina só poderes ver os meus sonhos no meu reflexo. "Jornal de Parede" de José Pedro Cadima e de José Cadima
quarta-feira, agosto 29, 2012
terça-feira, agosto 28, 2012
Viagens fora da minha terra (4)
A semana passada, o hemisfério Sul. A presente semana, o hemisfério
Norte, a Norte mesmo.
Ontem, o
aeroporto, primeiro, e o comboio que partiu atrasado, depois, mas que acabou
por chegar em boa hora, apesar de tudo.
Hoje, o
campus universitário, a conferência e os conferencistas, os caminhos de
Santiago e outros caminhos de peregrinação, neste tempo que poucas vezes se
oferece de esperança, e um sem número de comunicações, algumas fazendo pouco
sentido.
Salvou-se
o campus universitário, que o é de corpo inteiro, com espaço público, com
espaços verdes e tratados que vão para além dos canteiros de flores, com salas
adequadas e bem equipadas, com gente; um campus universitário com gente, digo.
Ontem, a
rapariga que acariciava demoradamente o braço e a mão de outra rapariga, e a
mulher que observava com espanto espelhado no rosto a carícia explícita,
demorada, tão demorada quanto a viagem que fizeram juntas.
Ontem, o
comboio que percorria o vale rasgado, lado a lado com o rio, e as vinhas
verticalmente alinhadas na encosta da serrania vizinha. Alinhadas, sim. A
surpresa, minha, porventura de mais ninguém, resultava do alinhamento do alto
para o baixo ou do baixo para o alto, se preferirem, das vinhas, talvez por
razões a que a latitude em que se encontram, ou outras que nos escapam.
Hoje,
agora, alguma tranquilidade, finalmente, o desejo de uma noite tranquila, quer
dizer, uma noite pautada por horas adequadas para deitar e para levantar.
Hoje,
percorrendo as ruas de Colónia, e, antes, sentado numa sala de aula, senti-me
em casa, de novo. Hoje, senti-me em casa, mesmo à noite, jantando num bar
ornamentado com simbologia russa, num ambiente razoavelmente barulhento,
animado por gente jovem.
Ontem,
comendo com as mãos, num restaurante ´etíope`, senti-me menos confortável.
Valeu a experiência, o carácter acolhedor do local, juntamente com a beleza
exótica das funcionárias em serviço. O restaurante indiano vizinho, tentava-me
mais mas nem sempre temos ou podemos ser reféns do primeiro impulso.
Amanhã? Amanhã
voltarei ao campus universitário, à conferência, ao ritual das comunicações, às
conversas de circunstância, à expectativa de encontrar algo que me surpreenda,
e ao conforto, quiçá, de sentir-me em casa.
José Cadima
segunda-feira, agosto 27, 2012
´Conversas` do quotidiano
"No jardim zoológico de Colónia, na Alemanha, um tigre escapou do recinto e matou uma das tratadoras..."
- Tu tem cuidado aí em Colónia! (José Cadima)
- Obrigado pela tua preocupação. Até agora, está tudo calmo por aqui. Nem leoas vi. (J. Cadima Ribeiro)
sexta-feira, agosto 24, 2012
quinta-feira, agosto 23, 2012
Maré (alta)
Eras a maré,
maré alta,
entenda-se,
que me enrolava, que me arrastava.
Eras uma força a remar
contra os meus maiores objectivos.
E, no entanto, ali estavas,
derradeiro tormento e prémio.
Estranguladora e libertadora,
eras a minha morte criativa,
a minha paz eterna.
José Pedro Cadima
que me enrolava, que me arrastava.
Eras uma força a remar
contra os meus maiores objectivos.
E, no entanto, ali estavas,
derradeiro tormento e prémio.
Estranguladora e libertadora,
eras a minha morte criativa,
a minha paz eterna.
José Pedro Cadima
terça-feira, agosto 21, 2012
domingo, agosto 19, 2012
sábado, agosto 18, 2012
Viagens fora da minha terra (3)
O tempo passa, as pessoas passam,
algumas em passo mais apressado, e eu vou ficando, por enquanto. Virá o meu
tempo de partir, também. Nessa altura, serão outros que, porventura, repararão
no passo que tomarei. Porventura…
Os semblantes são os mais
diversos. As silhuetas diversas são, embora de perfil predominantemente
europeu, apesar de estarmos em pleno Brasil. Quem diria?!
Não é esta a imagem que as nossas
mentes têm gravada, registada em muitos momentos de observação da televisão,
recriada pelas nossas mentes, que invocam morenas que caminham pela rua
bamboleando-se, negras de saia rodada, bailarinas em pleno sambódromo.
Entretanto, não é disso que se
preenche este aeroporto. Não são esses os sons que se escutam nem é esse o
ondular de quem passa, alguns de passo mais apressado, outros que fazem horas,
como eu.
Prefiro esta pausa à correria a
que estas viagens nos impelem, amiúde, por força de horários inter-voos
apertados ou de voos que se atrasam, o que acontece com demasiada frequência.
Prefiro esta deambulação da mente, este tempo para a deambulação mental, neste
cenário agitado, de aeroporto.
Mais tarde estarei de volta à
cidade, de retorno às rotinas de trabalho, em tempo dito de férias. Mais logo,
digo, retomarei o passo apressado que me trouxe até aqui e que não sei onde me levará,
ainda.
Na frente, o quiosque de livros e
jornais. Na frente, a “paneria” que noutros lugares seriam “lanchonete” e
noutros, ainda, pastelaria ou, quiçá, café. Por agora, olho quem passa. Por
agora, Portugal permanece distante, e longe está, até, o lugar que nesta altura
“me espera”.
O aeroporto é isso: lugar de
passagem; ponto de encontro; um intervalo nas nossas vidas, onde, nalgumas
ocasiões, encontramos tempo para olhar os transeuntes e, até, para deixar a
nossa mente deambular.
O som dos altifalantes chamando
gente para o próximo voo irrompe na sala de espera de quanto em quando. No
entretanto, permanece um ruído de fundo, construído de centenas de vozes
imperceptíveis e ruídos exteriores de máquinas em movimento.
Saído dos altifalantes, aguardo o
anúncio do nome de um lugar que me soe “familiar”. Será o meu próximo destino,
ainda longe do instante do regresso às origens.
José
Cadima
quarta-feira, agosto 15, 2012
Num momento de pausa, recordando...
«Quero parar
Quero parar!
Quero seguir o meu caminho,
Quero seguir o meu caminho,
caminho distinto
do que me trouxe a estas
paragens.
Quero parar, parar, parar
mas a inércia arrasta-me, impele-me,
Quero parar, parar, parar
mas a inércia arrasta-me, impele-me,
deixando-me cada vez mais
estreito
o umbral de arbítrio.
Anseio seguir por onde quero,
Anseio seguir por onde quero,
percorrendo estrada
ampla,
liberta de sinais
vermelhos.
Quero parar!
Quero retornar à utopia
que me trouxe a estes
lugares,
que já não são de
encontro,
antes são de
desassossego.
Quero parar
para procurar caminho
retemperador.»
José Pedro Cadima
terça-feira, agosto 14, 2012
domingo, agosto 12, 2012
Viagens fora da minha terra (2)
Se nem
sempre são fáceis as viagens que faço na minha terra, não surpreenderá que
menos o tendam a ser as que faço fora da minha terra, quando não num outro
mundo, materializado em hábitos e posturas diferentes daquelas com que estou familiarizado,
outras paisagens e outras gentes, outras horas e comidas. Falando da Uberlândia,
uma vez mais, aparte as casas “fortificadas” tão comuns, não deixaram de
surpreender-me outras realidades que imaginava bem distantes; a saber:
i)
a abundância de gente gorda, há semelhança do que já
vira muito mais a norte, neste mesmo Continente, e de moças “de rabo pesado”,
algumas bem jovens ainda;
ii)
contraditoriamente, num país tão jovem e a viver um
período de tanto fulgor económico, na aparência que tomam as coisas no curto-prazo,
pelo menos, a informação de que a taxa de natalidade se situa já abaixo do
limiar de reposição de gerações;
iii)
a qualidade de certos equipamentos públicos, como um
certo parque urbano (Sabiá) que encontrei, onde, paradoxalmente ou talvez não,
se reúnem a certas horas multidões que acompanham miúdos irrequietos e/ou percorrem
mais ou menos apressados os trilhos estabelecidos, procurando aligeirar rabos
que se sugerem, amiúde, bem pesados;
iv)
a especulação desenfreada que graça com terrenos
urbanos e urbanizáveis, para lá do multiplicar dos condomínios fechados e
amuralhados que se encontram por toda a parte, na envolvente de uma cidade
crescentemente espraiada;
v)
a abundância de aves, umas mais exóticas que outras, bastantes
das quais se podem encontrar no seio da própria cidade, e de árvores e vegetação
razoavelmente estranha aos olhos de um europeu, mesmo que do Sul;
vi)
a existência entre as árvores de algumas que serão
ainda herança jurássica, em razão dos espinhos nos troncos com que se encontram
ornamentadas; e, notem, não me estou a referir a arbustos mas, antes, a algumas
de considerável porte; e, como última menção,
vii)
o encontro que tive com dois lagartos de considerável
porte, um dos quais resolveu interromper-nos a jornada por um número considerável
de minutos, posto que, a dado passo, hesitou entre permanecer no trilho que percorríamos
ou retornar à floresta vizinha, porventura, menos ensolarada, se é que a
presunção que assumo tem cabimento.
A surpresa
e o exótico, são, como bem se sabe, a mais das vezes, o que mais leva gente a
certas paragens. Sabia-o, embora não tivesse sido esse o motivo principal que
me trouxe a este destino. Confesso entretanto que, tanto quanto o exótico, o
que me atrai em muitos lugares é o seu oposto, isto é, o que é comum, uma
rotina que não seja penosa, a familiaridade com as coisas e as gentes. A jornada
vai ainda a meio, todavia. Por isso, há que guardar espaço para mais surpresas
e mais exotismo. Assumido o desafio, não há recuo possível!
José Cadima
sábado, agosto 11, 2012
quinta-feira, agosto 09, 2012
quarta-feira, agosto 08, 2012
segunda-feira, agosto 06, 2012
Uma flor
Olho para o lado
e vejo uma flor.
És tu. Só podes ser tu!
Antes eras tojo
espinhoso e revoltado
tentando subir a montanha
ou, por vezes, fugindo dela.
Hoje és uma flor
cada vez mais luminosa,
cada vez menos espinhosa.
C.P.
domingo, agosto 05, 2012
Sonhei
Sonhei.
Sonhei
alto
e
o meu sonho levou-me a ti.
Somos
circunstância.
Somos
acaso.
Somos
flor de laranjeira.
Já
fomos tojo.
Já
fomos urze.
Talvez
possamos ser
campo
de morangos, para sempre.
Trevo
de 5 folhas já és.
Trevo
de 3 folhas sou,
buscando, ansioso, sorte
que
tão fugidia me tem sido.
Depois
de tanto desencontro,
pode
ser a hora do encontro.
Somos
acaso.
Somos
flor de laranjeira.
Somos
campo de morangos
acabado
de plantar.
José Cadima
sábado, agosto 04, 2012
Viagens fora da minha terra
Estafado da caminhada e do Sol escaldante, jogo o corpo na
cama e tento alhear-me do desconforto que me assalta os pés, as pernas e, logo
depois, o corpo por inteiro. Mais tarde retornará o desgaste da viagem
recentemente realizada e o desacerto das horas. Em razão disso, quatro dias
volvidos, ainda almoço na hora em que devia tomar o café da manhã e janto na
hora em que devia lanchar. Neste trocar de horas, escapam-me o pequeno-almoço e
o lanche, propriamente ditos.
Encontrei um Brasil diferente daquele de que me recordo: confiante, agitado mas não socialmente menos contrastado. Se não me deparei
ainda com favelas e expressões extremas de pobreza, choquei-me com o
multiplicar de condomínios fechados e cercas elétricas e/ou de arame farpado a
rodear cada condomínio, cada prédio, cada casa, mesmo em pleno centro da cidade.
Uberlândia, nome de parque temático e imagem aérea noturna
de surpreendente beleza em razão da regularidade e formas do seu alinhamento na
paisagem. Uberlândia, ponto primeiro de passagem nesta jornada que há-de
levar-me a outras terras sobre cujas surpresas que me possam estar reservadas me
interrogo.
A Universidade da Uberlândia está em greve, à semelhança das
demais universidades federais, em greve de professores há mais de dois meses,
digo, por razões que me escapam mas que hão-de ser bem menores que as que
achacam os professores e as universidades portuguesas nesta altura. É a relatividade
das coisas. De momento, no entanto, a UMinho e Portugal estão distantes. Sobram-me
as notícias da desgraça que me são trazidas pelos comentários colocados no Facebook e pelos títulos disponíveis no Twitter. De momento, digo, são esses os
laços que mantenho com a minha terra. Para mágoa, já me bastam.
José Cadima
sexta-feira, agosto 03, 2012
quinta-feira, agosto 02, 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)