sexta-feira, dezembro 30, 2011

quarta-feira, dezembro 28, 2011

Minha querida Cláudinha

Embora se possam fazer balanços todos os dias, há ocasiões em que faz mais sentido fazê-los e o final do ano é uma delas. No balanço do ano que faço, tenho que pôr do lado do activo e agradecer-te a atenção, o carinho, o amor que me dedicaste, que me fez sentir valer a pena este quotidiano penoso que é viver e trabalhar em Portugal nos tempos que correm, infelizes, longe de qualquer alento, cada vez mais longe do atendimento das expectativas básicas do comum do cidadão, de que eu me sinto parte, substantiva e subjectivamente.
Foi bom saber-te a meu lado, ter seguro um abraço no fim do dia, saber garantido o refúgio necessário de quem enfrenta um dia longo sem momentos de tréguas. Foi bom, foi um renovar de esperança saber que alguém me esperava no final de cada jornada.
Pena tenho de, por força deste desgaste de muitos anos que levo, não ter sido capaz de responder a cada abraço teu com outro abraço, de não ter sabido dobrar em beijos aqueles que me deste, de não ter sido capaz de fazer de cada dia teu um hino à alegria e ao amor. Não era fácil, é certo, mas devia ter feito bem mais e melhor.
Em hora de balanço, não sou capaz de alinhar dados do lado do passivo. Obviamente que houve momentos em que senti que não eras capaz de acompanhar-me nos silêncios que me eram tão necessários, na minha visão das pessoas e do mundo mas isso não chega para que faça sentido relevá-los. No passivo, quedam apenas as minhas incapacidades e limitações, entre elas avultando os abraços que não cheguei a dar-te.
Não sei se o tempo que se avizinha pode ser tomado por tempo de esperança, para ti, digo, embora o deseje muito. Os sinais que nos chegam vão quase todos em sentido contrário. Acreditando que o futuro não pode ser construído unicamente de mágoas e pesadelos, sou levado a achar que o teu te reservará também muitas coisas boas, porque o mereces.
Até qualquer dia, meu amor!

José Cadima

terça-feira, dezembro 27, 2011

Acredito, tento acreditar

Acredito, tento acreditar que as coisas vão melhorar mas, algumas vezes, demasiadas, sou levado a descrer disso. É um equilíbrio desgastante este em que me movo.


K

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Angústia, ansiedade, insónia


Há ocasiões em que sou levado a sentir-me o mais infeliz dos seres, mesmo sabendo que mundo fora, neste país, nesta cidade há pessoas que não têm asseguradas condições  básicas de sobrevivência: pão, paz, habitação.
Angústia, ansiedade, insónia, são três das dimensões que corporizam o desconforto que me atinge, isto é, que me agride.
Interrogo-me. Interrogo-me outra vez e não alcanço resposta. Porque será que tenho que cruzar todas as etapas deste calvário se nem sequer alimento a esperança de alcançar a redenção final, dos justos, como alguém diria?
Um existir sofrido; poucas vezes sereno. Vale a pena uma existência assim? E porquê se não regateio entrega, sacrifício até, algumas vezes.  
Estado de alma ou alma sem estado, sem estância segura, sem lugar onde viver em paz? Será tempo de abandonar esta luta ou, antes, de abraçá-la com mais força, na esperança derradeira de atingir o oásis, um qualquer oásis, assumindo que os haja? E se não houver?
Há ocasiões em que sinto, acredito que a quietude, o repouso de espírito, a paz exterior e interior são possíveis. Há ocasiões em que sinto que há-de haver razão para esta travessia que faço, quer dizer, que julgo que o caminho que percorro tem razão de ser, que o meu esforço, a minha entrega valem a pena, que a paz que tão ansiosamente procuro não é apenas uma miragem, como têm sido os oásis que, ocasionalmente, tenho perscrutado no horizonte.
Pobre da minha mente, pobre de mim que já não vislumbro a diferença entre realidade e sonho, por ser pesadelo continuado o quotidiano. Destino? Sorte? Mas porque hei-de sofrer de tamanha mal sorte?
Há ocasiões em que me interrogo e não encontro resposta alguma, sendo certo que não é a ausência de respostas que me desespera mas, antes, esta intranquilidade que me agride, esta sensação de caminho conducente a nenhures que percorro, esta condenação ao purgatório que me terá sido destinada.
Um existir sofrido; raras vezes sereno.

K

sábado, dezembro 17, 2011

(O tempo que passo) Sem ti

As horas passam,
o tempo voa,
e eu continuo aqui
sem amor, sem ti.
Se conquistar o teu amor
tem sido um sonho,
nesta hora, só em sonho te tenho comigo.

O tempo passa.
Nesta hora, só em sonho te tenho aqui,
só no meu coração te encontro,
te beijo e te abraço.
Conquistar o teu amor
tem sido um sonho
não concretizado.

José Pedro Cadima

terça-feira, dezembro 13, 2011

Tu(Eu)

Senti-me mal. Apeteceu-me chorar. Apeteceu-me correr rua abaixo até não me restar energia para mais. Não fui capaz!
Decidi tomar um banho. A água morna acalmou-me, mas não chegava. Peguei num pente. O pente deslizou-me sobre os cabelos encaracolados. Arrancou montes deles. Penteei o cabelo para a frente para me tapar os olhos. Aos poucos, as pontas encaracolaram-se para cima e deixaram-me ver a minha cara no espelho.
Senti uma vez mais necessidade de gritar; senti que se não gritasse acabaria para abafar. Explodi!
É por isso que hoje não resta de mim senão o que está à vista.

José Pedro Cadima

domingo, dezembro 11, 2011

Notícias de um mundo paralelo: heterodoxias

"Sendo de saudar a heterodoxia, percebe-se amiúde que as leituras de situação feitas e as recomendações elaboradas reflectem um claro défice de visão e de reflexão sobre os princípios e a problemática da gestão da(s) organização(ões), isto é, bem intencionadas que são as ideias veiculadas, falha-lhes em muitos casos o pragmatismo associado à gestão e adequada estruturação da(s) organização(ões)."

J. Cadima Ribeiro

quinta-feira, dezembro 08, 2011

terça-feira, dezembro 06, 2011

Hoje, especialmente hoje, apetece-me reler o texto

Escondido num novelo de lã

Num novelo de lã me quero esconder,
quietinho, aconchegado, a salvo;
a salvo do que vai lá fora,
a salvo do que ficar fora do meu novelo de lã.
Deixem-me procurar um lugar
onde possa permanecer recolhido,
longe da impiedosa lei
que, nos sonhos, traz a luz.

A opressão ataca os pobres
que querem sonhar,
encurrala-os em becos sem saída,
enche-nos a vida de medos.
Pressinto longe o meu novelo de lã.
Quem me dera tê-lo mais perto,
ali, ao alcance de uma mão.

José Pedro Cadima