domingo, junho 26, 2011

Quanto por escrever

Ando há tantos dias para escrever
sem que me saia palavra certa
que receio aqui deixar este poema
sem que alguma coisa tenha dito.
São vozes que me gritam
coisas sem sentido,
fontes de vaidade,
direcção para a qual oscilo.
Sinto-me em excesso de liberdade,
sem juízo para escolha,
deixando poder aos outros
para aquilo que se chama futuro.
E já a ansiedade pede por calma,
que a paz é também desejo.
Não me perco nessa luxúria,
todo eu sou electricidade.
Iluminam-se as ruas escuras
por onde passo. Rebentam-se as lâmpadas.
Não vejo fim no horizonte,
só os estilhaços que caem.
Nas casas, apenas existem velas,
não fosse bruta a conta a pagar
de criar uma ligação
tão desperta e instável.
José Pedro Cadima

Sereias encantadas

Repara: lendo Camões ou Bocage (naquilo que deles me recordo), retirava-se a ilação que na génese de cada verso estavam grandes paixões, fossem elas a pátria ou sereias encantadas, também chamadas musas. Mas eu, na minha ingenuidade de então, atrevia-me a pôr sempre uma Helena de carne e osso, a transpirar sensualidade, no corpo de cada uma dessas musas. Vejo agora quão ingénuo era: eram mesmo sereias encantadas que, transportadas para os dias de hoje, não passariam de seres virtuais; perfeitas, sim, mas desprovidas de sentidos e, logo, de sentimentos e de qualquer arremedo de sensualidade.

José Cadima

sexta-feira, junho 24, 2011

A colónia de cegonhas brancas

Durante bastante tempo subsistiu em Portugal grande preocupação com a colónia de cegonhas brancas que demandavam o país em certa altura do ano, que foi diminuindo.
Mais recentemente, é o inverso que se passa, com essa colónia a expandir-se a olhos vistos. Ao que parece, há mesmo uma franja crescente que se terá estabelecido permanentemente no país.
Para entender uma e outra das situações, uma hipótese aventada prende-se estreitamente com o papel cometido àquelas aves de transportarem desde París os bebés que chegam(vam) a Portugal. Com o trabalho imenso que tinham noutros tempos, cedendo à fadiga, não admirará que o respectivo efectivo fosse diminuindo. Agora, que os bebés se podem já encomendar pela INTERNET, sobra-lhes tempo para se alimentarem convenientemente e procriarem, elas próprias.
Não deixa, no entanto, de impressionar o apesar de tudo curto lapso de tempo que decorreu entre uma e outra das situações. Será talvez tempo equivalente àquele que Portugal leva como membro da CEE/UE.

JC

domingo, junho 19, 2011

Sinto...

Sinto que te quero muito.
Sinto que me esgoto em angústia.
Sinto a felicidade mais longe.
Sinto que já nada importa.
Sinto que já não te quero.
Sinto que nada tenho.
Sinto que o amor
é um detalhe nas nossas vidas
repletas de incidentes e frustrações.
Sinto…

José Pedro Cadima

sexta-feira, junho 17, 2011

Incomoda-me a tua amargura

Incomoda-me a tua amargura; ferem-me as sombras que atravessam o teu olhar e fazem empalidecer o teu rosto. Bonita? Perguntas tu. Bonita, sim, quando o teu rosto desanuvia, quando os teus olhos e os teus lábios consentem uma réstia de ternura. Bonita, fresca quando retornas ao teu corpo de adolescente e te espraias no meu colo ou me apertas para um “xicoração” cúmplice.

José Cadima

segunda-feira, junho 13, 2011

sexta-feira, junho 10, 2011

Notícias de Varsóvia

"O melhor sitio do mundo para sair: WARSAW"
[http://www.youtube.com/watch?v=Rf4IqPe8JfU]

José Pedro Cadima

Violeta

Violeta! Meu trevo de 5 folhas:
quanta surpresa ver-te.
Ainda ontem nem sonhava existires.
Porventura, eras promessa
ou impossibilidade, até,
para os meus olhos cansados.
Quanta surpresa, meu trevo da sorte,
violeta.
Refeito de uma semana sem tempo para descanso,
repostos, em parte, sonos em falta,
terei recuperado a capacidade de te vislumbrar
na tua timidez, na tua formosura.
Violeta, minha flor singela:
fico-te reconhecido pelo encanto,
proporcional à singeleza,
e pela modo tão inesperado
quanto oportuno como te ofereceste aos meus olhos.
Fazia-me falta uma flor como tu, hoje,
particularmente hoje,
que estou a refazer caminho
interrompido por uma semana
que não é já para a energia que me resta.
Violeta! Meu trevo de 5 folhas:
só tu me impeles para a vida.

José Cadima

quarta-feira, junho 08, 2011

A esperança de um sorriso teu

"Li o jornal embora o meu pensamento estivesse centrado em ti, nesta esperança de um sorriso teu, meu amor."

José Cadima

domingo, junho 05, 2011

As mulheres muçulmanas ´versus` as outras

Que o controlo social pode ser tramado, já todos sabemos há muito tempo. Que as mulheres em termos biológicos não diferem muito à escala mundial, também já o sabíamos! Que elas podem diferir muito em termos culturais, também é óbvio!...

Que as mulheres têm todas as suas estratégias de atrair a atenção dos homens, …mesmo as muçulmanas, … talvez não tenhamos reflectido muito sobre o assunto! Habituá-mo-nos a pensar nelas como as que se tapam e se privam dos olhares dos outros, que são poupadas aos olhos dos outros homens. Mas podemos facilmente desmontar a forma inteligente de sedução! O cabelo, que é um dos mais importantes elementos de sedução é tapado, assim como as “curvas” do seu corpo (o que até pode dar jeito). Mas que dizer dos olhos carregados de lápis preto, das pulseiras e anéis reluzentes, dos chinelos com brilhantes?...

Estou num aeroporto e fico impressionada com a multiculturalidade que encontro. Mas o que me surpreende mais é ver um par de mulheres acompanhadas de uma filha de 12 anos e do presumível marido das duas! Ele é o único que se veste de forma ocidental. Porquê?

Elas estão neste momento a comer batatas fritas de pacote, mexendo agilmente os dedos carregados de anéis luminosos. Há 5 minutos atrás usava cada uma o seu telemóvel, logo após a saída, por breves minutos, do presumível marido. Estão vestidas de negro, da cabeça até aos pés. É engraçado constatar que as mulheres do mundo ocidental usam menos acessórios porque têm o cabelo e as “curvas” para mostrar. As muçulmanas usam mais acessórios, porque não tem o cabelo e as “curvas” para mostrar!

Será que são felizes? As que observo deverão sê-lo. Pertencem a uma classe média alta e o telemóvel comprova algum estatuto de mulheres empoderadas. As outras, … não sei…

Leonor