terça-feira, novembro 30, 2010

Tempos glaciares (2)

O cansaço enfraquece-me,
empurrando-me para o canto
mais sombrio da minha alma.
A insipidez do local abafa-me.
Já passaram por aqui desejos
e sonhos de encantar,
mas inverosímeis.
Agora, não são senão memórias,
imensos espaços gelados,
glaciares, diria.
Saudade? Arrependimento?
Sim, não os deveria ter deixado gelar!
Sim, acode-me a saudade de tempos menos sombrios.

José Pedro Cadima

domingo, novembro 28, 2010

Dizer-te – III

Ó mar salgado,
deixa-me enrolar-me nas tuas ondas.
Ó mar salgado,
deixa-me dizer-te quanto me é penosa
a travessia deste deserto
feito de angústia e lágrimas.
Ó mar salgado,
afasta de mim a tempestade
em que me constitui
para que haja lugar para a brisa suave
que anseio ser.
Ó mar salgado,
deixa-me reencontrar a tranquilidade
e o lugar do sono
para que surja também a oportunidade do sonho.
Ó mar salgado,
quem me dera experimentar de novo a embriaguês
dos nossos corpos em rodupio,
pairando sobre campos pejados de malmequeres
ou de lírios dos campos.
Ó mar salgado,
Quem me dera virar oceano outra vez.

K

sexta-feira, novembro 26, 2010

Esta descrença que me trespassa

Questiono-me sobre como aqui cheguei.
Interrogo-me sobre para onde vou.
Retenho o caminho agitado que trilhei
quase sempre navegando por intuição.
Se sonhei?
Se sorri?
É óbvio que sorri.
É certo que fortuitamente me deixei transportar
nas asas do sonho.
Como podia ser de outro modo?
Como se pode percorrer caminho
vazio de esperança?
Como seguir trilho certo
suportado em tão poucas ajudas à navegação?
O meu devir?
Será bastante a esperança
de que o sonho será o limite?
Interrogo-me, volto a interrogar-me,
corro em direcção ao certo
que me resulta incerto.
Busco ansiosamente a tranquilidade
que não encontro em mim
e que quero crer que sejas tu.
Seguro parece-me ser só este desespero,
esta descrença que me trespassa
e me tolhe.

José Cadima

quinta-feira, novembro 25, 2010

quarta-feira, novembro 24, 2010

quinta-feira, novembro 18, 2010

Roxo













Portas de entrada.
Portas de saída.
Serão as portas de entrada
portas de saída?
A seta indica um só sentido.

K

quarta-feira, novembro 17, 2010

Dizer-te - II

Ó mar salgado,
deixa-me dizer-te quanto te quero.
Ó mar salgado,
deixa-me garantir-te
que dos mostrengos vou livrar-te.
São mostrengos horrendos
esses que te tiram a tranquilidade e o sono.
Como salvadora
me podes pois pensar.
Fica-nos depois espaço
para, de mãos dadas, subirmos o Pico Everest
e ficar por lá até a morte chegar.

K

terça-feira, novembro 16, 2010

Dizer-te

Ó mar salgado,
não imaginas as saudades que sinto de ti.
São tantas que parece que partistes há muito, muito tempo.
Amor da minha vida,
desde este lugar remoto,
deixa-me dizer-te quanto te quero,
quanta falta me fazes, quanto és única.
Deixa-me dizer-to vezes sem fim.
Para sempre, meu amor,
liberta-te desses mostrengos que te atormentam,
e, libertando-te deles, liberta-me também.
Não sou, não posso ser
a razão dos teus problemas.
Se servir para ajudar a resolver algum, fico contente.
Acrescentar problemas, é coisa que recuso.
Antes, quero ser o lugar onde te perdes, o teu ponto de encontro.
Amor meu,
deixa-me dizer-te quanto te amo,
deixa-me dizer-te quanto és única,
quanto me és preciosa, quanto falta me fazes, para sempre.
Meu amor, liberta-te desses mostrengos,
liberta-me, para sempre!

K

segunda-feira, novembro 15, 2010

domingo, novembro 14, 2010

Sou assim

Sou assim, cheio de falhas.
Sou assim, cheio de vontade de abraçar o mundo.
Sou assim, carente de paz,
ansioso por desfrutar de uma vida que me foge.
Sou assim, pleno de saudade
de todas aquelas coisas que me fazem sentir bem,
que me chamam para si
e que, quando as alcanço,
logo concluo que não era delas a saudade que sentia
mas de outras coisas
que elas me fazem/faziam lembrar.
Sou assim, tão forte
quanto a fragilidade
com que fui tecendo uma vida.
Sou assim, pleno de forças
que se alimentam das muitas falhas
com que tive que tecer um percurso
construído de vontade,
de suor, de desespero, de alegrias;
muito poucas, se olhadas à luz
de ânsia que sempre tive das alcançar.
Sou assim!

José Cadima

sábado, novembro 13, 2010

quinta-feira, novembro 11, 2010

Amar(-te)

Há quem diga
que “nos sonhos,
como no amor,
nada é impossível”.
Questiono-me porque, nos tempos que correm,
sonhar é cada vez mais difícil.
E se, em verdade,
“amar-te tem sido um sonho”,
a cada passo, os pesadelos
entrepõem-se-me nos sonhos.
No meio desse turbilhão, interrogo-me
sobre se “quero viver”.
Amar(-te) é seguro que quero,
amar(-te), direi, “e, eventualmente, viver”.

K

terça-feira, novembro 09, 2010

Verde e branco

















Jonkoping:
cores de um Verão
já passado,
um pouco mais a norte,
de que ficaram memórias
(que não foram sequer
as da chuva que apareceu
para saudar os convivas, no fim do jantar volante).

K

A árvore que sou

Na árvore que sou,
estou no Outono,
uma estação de tempo instável
mas sempre dominada
pelo agitar do vento,
o esvoaçar das folhas,
o espreitar do Sol
em perda de brilho e de intensidade.
Na árvore que sou,
sinto fragilizada a terra
a que se agarram as minhas raízes
e empobrecida a seiva de que me alimento.
Na árvore que sou,
estou no Outono,
mas não desisti ainda
de ser a Primavera de alguém.

José Pedro Cadima

domingo, novembro 07, 2010

sexta-feira, novembro 05, 2010

Refém de ti

Procuro, procuro em meu redor
e não acho nada.
Procuro dentro de mim
e só te encontro a ti,
quer dizer, acho a saudade de ti.
A minha vontade,
o meu anseio ardente
era ter-te ao alcance dos meus braços,
presa da mesma teia
que me mantém refém de ti.

José Pedro Cadima

quinta-feira, novembro 04, 2010

Asfixiado (II)

Asfixiada pela tristeza, a minha alma sucumbe. Sem respirar felicidade, sem amor, morro asfixiado; morro como se me faltara o oxigénio.

José Pedro Cadima

quarta-feira, novembro 03, 2010

Falta-me tempo para mim

Falta-me tempo para mim (que gostaria de partilhar contigo) e sobra-me tempo usado a responder a prioridades alheias ou, nalgumas situações, a coisa nenhuma.

José Cadima

segunda-feira, novembro 01, 2010

Castanho


E de repente,
descendo às profundezas
da Terra,
somos colocados
perante um assombroso
espectáculo
de formas e sombras...
.
K