sábado, outubro 30, 2010

Amarelo




Menina que estás à janela...

Pena é que não faça vento:

quão bonito seria

ver o teu rabo-de-cavalo esvoaçar.

K

sexta-feira, outubro 29, 2010

Minha flor: o texto alternativo

Chamas-me “minha flor”.
Reclamas que a tonalidade
que dou à tua vida é de céu aberto,
azul claro, e com poucas nuvens.
Reclamas que as nuvens
que ocasionalmente aparecem
são nuvens que não indiciam chuva;
estão apenas lá, no céu,
para não o tornar monótono...
Contra o cinzento e mediocridade que nos cerca,
dizes, temos apenas que ser honestos
e tentar contrariar essa mediocridade.
Benevolamente, concluis
que contrario, muito bem, essa mediocridade...
Oxalá que assim fosse.
Oxalá que assim pudesse (possa) ser,
para sempre, meu amor.

K

quinta-feira, outubro 28, 2010

Minha flor

Chamas-me “minha flor”.
Reclamas que não pode ser cinzenta a minha vida,
que não podem ser cinzentas as nossas vidas.
E que cor podem ter, então,
cheias que são da mediocridade do tempo presente
e mergulhadas que estão em correrias
para lugar algum,
a que somos levados no quotidiano?
A tua vida não é cinzenta,
gostaria de proclamar eu,
mas não serei eu, por mim só,
capaz de mudar-lhe a tonalidade
para outra mais viva, mais radiante.
Com aguaceiros todos somos confrontados,
e até com turbilhões ocasionais,
mas isso é expressão de vida;
é a turbulência da vida.
O cinzento é antecâmara de morte,
a não ser que o sol que possa espreitar
por trás das nuvens densas vença.
Acredito-te parte desse sol.
Só não sei se este enevoamento
que vai tolhendo as nossas vidas
não acabará por ser mais forte que nós,
para sempre, meu amor.

K

terça-feira, outubro 26, 2010

Longe

Longe de ti,
longe de mim,
longe...
Sinto-te longe
e fico mais longe, também,
perdido num mar de pensamentos.
De quando em quando,
um qualquer acontecimento exterior
me faz regressar,
me rouba ao alheamento que de mim se apossa.
Por breves momentos,
retorno a Lisboa, a Leiria
a um sem número de lugares,
e, logo de seguida, ao rio que tudo arrasta,
ao fogo que tudo abrasa.
É vida em convulsão onde o porto de chegada
se ansiava que apresentasse águas serenas, sereias de encantar.
Longe de mim,
o meu pensamento vagueia,
ansiando achar lugar de repouso
que possa partilhar com este corpo cansado.
A hora não terá chegado.
A hora é de fazer caminho,
correr, enquando as forças o permitam,
ou mesmo quando não o recomendem.
O lugar de peregrinação é este, cinzento,
desassossegado, longe de ti, longe de mim, longe...

José Cadima

segunda-feira, outubro 25, 2010

Réstia de energia

Hoje, este vento gelado venceu. Amanhã preciso que vençam outras forças da natureza, sob pena que se extinga a réstia de energia que alimenta este meu corpo enregelado, trémulo.
.
José Cadima

domingo, outubro 24, 2010

Desaparecer

Dava-me jeito, nesta altura, poder abraçar-te forte, forte, até me confundir plenamente contigo e, desse jeito, desaparecer.

José Cadima

terça-feira, outubro 19, 2010

Madeira: flores




De volta às flores da Madeira
neste Outono ensolarado,
enquanto o Inverno
se aproxima em passo rápido.
.
K

segunda-feira, outubro 18, 2010

Falta de respostas (II)

O tempo corre.
O tempo voa,
sobretudo quando mais desejávamos
que certos instantes perdurassem.
O tempo passa.
A mais das vezes, sabe-se que passou
e não se sabe porquê.

José Pedro Cadima

sábado, outubro 16, 2010

sexta-feira, outubro 15, 2010

Pequeno curso de água e vegetação associada



Foto sem título,
sem referenciação de lugar
e de autor.
Foto, apenas,
de um pequeno curso de água
que não se sabe onde desagua,
mesmo presumindo que vá desaguar a algum lado.
Ainda assim,
uma pequena ribeira
cheia de vegetação.

K

quinta-feira, outubro 14, 2010

Vale a pena?

Há ocasiões em que me interrogo
sobre se vale a pena este labor, esta luta.
Há ocasiões em que me questiono
se é avisado o caminho que trilho
e, mais ainda, se valeu a pena
fazer o caminho que aqui me trouxe.
Há momentos em que me pergunto
se a valia da vida pode mesmo
ser avaliada "by the moments that take our breath away",
ao invés de ser " measured by the number of breathes we take”,
de penoso que é respirar.
Há momentos em que me interrogo
sobre o significado da palavra destino,
dando por certo que o meu destino
é fazer caminho, mais penosamente, numas ocasiões,
com maior alívio noutras,
sempre convencido de quão estreita
é a margem que tenho de auto-determinação.
De permeio, tento recordar-me
das ocasiões em que senti a respiração faltar-me
em razão da emoção do momento.
São estreitas as margens
do leito em que corre este rio.

José Cadima

São estreitas as margens

São estreitas as margens do leito em que corre este rio.

José Cadima

quarta-feira, outubro 13, 2010

sábado, outubro 09, 2010

Foi tarde

A Lua-cheia acordou cedo
e a Primavera correu para chegar a tempo.
Mesmo assim, foi tarde:
agora, tenho pouco,
quase nada para te dar.
Tempos houve
em que poderias ter tido a Lua.

José Pedro Cadima

sexta-feira, outubro 08, 2010

Auto-citação

Escassas, escassas mesmo em Portugal são a ousadia, a iniciativa, o sentido de projecto e a conformação de lideranças sociais e políticas que não sejam circunstanciais, que não olhem só para o umbigo.

J. Cadima Ribeiro

quinta-feira, outubro 07, 2010

Nazaré, meu amor!


Primeiro, fomos rumo acima,
em busca do Sítio.
A vista era arrebatadora.
Depois, rumámos abaixo,
e da Nazaré mirámos o cume.
Encontrámo-la cheia de gente simples,
cheia de gente cantante,
de sete saias rodadas.
O vento corria leve,
agitando-te o chapéu de abas largas.
Pena foi que nos faltasse o tempo
para nos deixarmos fluir por entre os veraneantes.
Pena foi que nos faltasse o tempo
para desfrutar do teu sítio, Nazaré.

K

terça-feira, outubro 05, 2010

Da Nazaré e do seu Sítio (II)





Por esta encosta acima,


lá vai o elevador.


Vai em busca do seu sítio,


logo estará de volta.


A Nazaré fica já ali,


a seus pés.



K

sexta-feira, outubro 01, 2010

Mais coisas do arco-da-velha

Cortes de cabos electrónicos, quadros eléctricos que disparam, isto é, que cortam o fornecimento de energia a certos corredores do edifício, controladores de aparelhos de ar condicionado que aparecem colados com colas rápidas, garrafas de água e de sumos espalhados pelos corredores do edifício, moedas de 5 cêntimos e papelinhos invocando certos direitos constitucionais atapetando corredores, portas que se fecham do exterior com professores dentro do gabinete e chaves mestras que desaparecem de portas onde ficaram esquecidas, funcionários que são atendidos de urgência no hospital apresentando quadros clínicos depressivos, bolas de vidro colorido que desaparecem de gabinetes de trabalho, pedaços enrolados de cabos electrónicos (recém-cortados de caixa multibanco instalada na instituição), que chegam a uma caixa de correio postal... Assim têm sido os derradeiros 15 dias numa Escola da UMinho bem perto de si. Que virá a seguir?
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J. Cadima Ribeiro