segunda-feira, junho 28, 2010

Inconsciência

Caminho ziguezagueando por entre os corpos intoxicados da multidão. O cenário com que me deparo é sinistro. Cruzo-me com seres cheios de poucas boas intenções e com muita substância ilícita na mente, nos olhos e nos bolsos.
Vem-me à memória a pouca consciência de indivíduos que afogam a sua sobriedade numa toca longe deste local. São os habitantes desses buracos na terra que transportam a mágoa até outros indíviduos, seres perdidos na vida, à procura do seu passado, um passado sem drogas nem alucinações.
Sobressalta-me este pensamento. Questiono-me se dêvo vertê-lo aqui e, por essa via, levar o sobressalto a outros. Aproveitando sentir-me leve, transporto ainda mais coisas. Se calhar é nisso que falho. Deveria ter feito um buraco no jardim e deixado lá tudo quanto me atormenta. Terrível momento este. Como é que a inconsciência dos actos pode ser fonte de conforto?
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José Pedro Cadima

Agradeço-te

Agradeço-te o carinho e compreensão com que me tens tratado. Sei que não sou capaz de competir nisso contigo, nem um bocadinho.

K

sexta-feira, junho 25, 2010

Querer

Se alguém está contigo
é porque quer estar.

Naquelas noites em que estive com alguém,
esse alguém esteve comigo
porque não teve ninguém melhor
com quem partilhar a cama.

Não há melhor razão
do que a de querer.
Quem quer porque quer
vai ainda mais além.


José Pedro Cadima

quarta-feira, junho 23, 2010

Pesos e distâncias

Carrego todos os teus erros.
Transporto a inconsciência dos teus actos,
que hipoteca qualquer futuro.

E cada razão que me dás
para de ti desconfiar
é mais um peso que se junta
ao fardo que carrego dia após dia.

Quando me dizias
algo com cheiro de verdade
era apenas perfume.

Encoberta estava uma hipocrisia
que me dava direito a sermão.
Agora digo-te sem mentira
o quão hipócrita sou.

Entre nós dois
há um enorme salto.
Se da hipocrisia fizéssemos combustível
eu teria descoberto a América
e tu dado o primeiro passo na Lua.


José Pedro Cadima

segunda-feira, junho 21, 2010

Predestinar

Acreditava que o que nos unia
era tanto quanto a distância
que prescutavamos olhando o horizonte longinquo.
Acreditava que respirávamos como um só,
que o mesmo coração nos movia!

Agora que a nuvem
que me toldava a visão se afastou,
dou murros nas paredes
com a fúria do ódio
que sinto por mim.
Preferia ter queimado
estes olhos com que te vi.
Será o orgulho parvo
que te levará para longe de mim.

Nas estrelas não há mais eternidade
que pareça alcansável.
A escuridão do céus
delimita apenas o que podemos ver.


José Pedro Cadima

domingo, junho 20, 2010

Memória: saudades ...

"Como é que te podiam vir as saudades a meio da tarde se estavas no trabalho? Não seria fome, antes? Provavelmente, confundiste uma e outra coisas."
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José Cadima

quinta-feira, junho 17, 2010

Espécime: apaixonado

Para um apaixonado,
os dias são tonturas,
deslumbramento
da quase-doença
que é a vida.

Veja-se no espécime
a esperança-desespero,
pão de cada dia,
um errante do destino
curvado por um peso
que carrega sem objectivo.
Comem-lhe as borboletas
de tudo o que se alimenta.
Não o visita o pestana
com medo que se pegue.

Seja ou não falha
na teoria da evolução,
o apaixonado ...
continua entre nós.


José Pedro Cadima

Lamento...

Lamento profundamente... Nunca tive uma vida fácil. Fui sobrevivendo com trabalho, muito esforço e espírito de sacrifício... Criei mecanismos de defesa. Obviamente que criei...
.
K

terça-feira, junho 15, 2010

Consciência

As tuas palavras de amor
são tudo aquilo
em que sou incapaz de acreditar.

Desejo levado ao coração
sem fundo de verdade.
Uma força de vontade
que ilude o julgamento.

Até o teu olá me soa a mentira.
Não tens consciência
do que dizes.


José Pedro Cadima

sexta-feira, junho 11, 2010

Esperar

Mais um momento à espera.
Logo a mim cuja paciência
não me apareceu com a vida
nem há-de aparecer-me com a paixão!

Talvez não me fizesse falta.
Se não faltasses tu,
não me restaria ninguém por quem aguardar!

Poderia navegar nos pensamentos
(independentemente do poder fazer agora),
mas feitios são feitios
e eu não fui feito para esperar!


José Pedro Cadima

quinta-feira, junho 10, 2010

O poder da vuvuzela!?

Meus caros leitores, venho falar-vos da tão badalada vuvuzela… Sim, daquela que nos tem entrado pelos tímpanos dentro nas últimas semanas, sempre que ligamos os televisores. Sim, as vuvuzelas que também já vamos ouvindo, aqui e acolá, nas ruas!
Depois do Scolari, que tanto pediu aos portugueses para colocarem nas varandas e janelas das suas casas a bandeira portuguesa, e de vários milhares de mulheres terem, em 2006, batido um record num dos estádios portugueses construindo uma enorme bandeira humana, eis que chega a mais recente descoberta – a vuvuzela.
Nós já sabemos que os portugueses são muito amigos do futebol, mas o que não adivinhámos é que eles iriam adoptar uma invenção de há vários anos, dos Sul Africanos, e que iriam esquecer tão facilmente a bandeira portuguesa.
Convenhamos que o acenar com a bandeira sempre era mais patriótico, mais colorido e o tocar/cruzar de duas bandeiras poderia até revelar-se promissor de um namoro entre dois donos de bandeiras. É que o encontro de duas vuvuzelas, convenhamos, não causa grande ambiente de romance, pois pior do que uma vuvuzela, são duas vuvuzelas tentando cada uma “tocar” mais alto do que a outra.
Ora, ficámos a saber esta semana que as vuvuzelas, mais especificamente, o som emitido por elas (se é que algum som emitem), pode causar diminuição da capacidade auditiva e já vários jogadores afirmaram publicamente que sentiram dificuldade em perceber a informação passada pelos colegas de equipa devido, pasme-se, ao barulho das vuvuzelas em campo!
Enquanto tento escrever esta crónica, ouvi, entretanto, mais uma vuvuzela a tocar na televisão. Gostava mais das bandeiras a esvoaçar nas janelas das casas e algumas até colocadas nos telhados das mesmas. Ou até do Quim Barreiros ou o Roberto Leal a cantar!
Como é que vamos aturar as vuvuzelas até ao fim do Mundial de Futebol? E se todos fizerem como a Galp Energia, que tanto a apregoa na rádio e na televisão? Carregar bem na vuvuzela antes do início de cada jogo!?... Por favor tirem-me deste filme!...

Leonor

terça-feira, junho 08, 2010

(In)transparência

O meu verdadeiro medo
esconde-se para lá do que compreendo.
Vejo como se comportam
e detalho sinais do ser.

Cada gesto que analiso
é uma futura visão
de um acto que toma lugar
para lá do que o tempo deixa transparecer.

Não fosses tu
barreira a qualquer vidência,
podia aperceber-me
dos sinais que gostarias de enviar.


José Pedro Cadima

domingo, junho 06, 2010

Círculo de horizontes

Corre para mim
que ver-te no horizonte
por altura do sol nascente
só me faz confusão.

Estás tão longe
e, ainda assim, visível.

Atormentas-me, rapariga.
Moves-te em circunferência.
Por não tombares para um lado,
empurras-me para longe.

Anseio cair,
esperando que dês a volta
no teu circular caminho...
e me encontres,
no horizonte do sol poente.


José Pedro Cadima

sexta-feira, junho 04, 2010

Um toque

Não tenho paz que me apazigúe a alma.
Resta-me esperar que me tragam algum conforto.

Por isso deambulo numa busca
de quem precise de ajuda.

Uso o tempo para encher de esperança
quem só dela se socorre.

Talvez um dia
me venham tocar na alma
e ela se transforme.


José Pedro Cadima