sábado, outubro 31, 2009

Ingénuo

Observo aquilo que me rodeia.
Reparo, em especial,
naquilo que não posso compreender
mas julgo entender o que é,
como funciona.

Mas sou ingénuo:
colocado que estou
do lado de fora da caixa,
ignoro por completo
a sua dimensão interior,
quer dizer,
a razão de ser das coisas.

José Pedro Cadima

quarta-feira, outubro 28, 2009

Demónio vazio

Sou como que um demónio
vazio,
retirada que me foi a alma
por uma queda dada de uma altura
que só de nela pensar já assusta.

Estou, assim, sem espaço
para sentir aquele sofrimento miúdo
que me podia despertar para a vida.

José Pedro Cadima

segunda-feira, outubro 26, 2009

Existência

Comunico à existência
que estou aqui e respiro.
Ela responde-me
que não sou ninguém.

Digo-lhe que em frente
sempre tenho caminho.
Ela diz-me que coragem
me falta para o percorrer.

- Pois então irei conquistá-la!
A existência admite:
- Pois, não tens nada a perder.

José Pedro Cadima

sábado, outubro 24, 2009

O silêncio

O silêncio pode ter um poder demolidor
O silêncio pode marcar-nos
O silêncio pode deixar-nos confusos

O teu silêncio é atraente
Quando me beijas
Quando me seguras na mão
Quando me tocas

Mas o teu silêncio
Não me diz para onde queres ir
Não me diz que caminho queres trilhar

Gosto e não gosto do teu silêncio
Quando deixarás de ser tão silencioso?...

C.P.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Andar

Um passo para a frente,
dois passos para trás.

O cansaço é uma constante,
sempre a baralhar-me o dia-a-dia,
distanciando-me de ser livre,
afastando-me do ser.

Cinquenta para a frente,
mil para trás,
maldita a hora em que comecei a andar!

José Pedro Cadima

Louco

Estou louco!
Encontro-me perdido em Madrid
por alguém
que só por mero acaso conheci.

Não é normal
sentir este desejo:
querer agarrar-te pela cintura;
querer sentir-te contra mim...

Não me imaginava
a sentir nada disto.
Nem preparado vim:
deixei a coragem em casa.

José Pedro Cadima

terça-feira, outubro 20, 2009

A hell of a night

When I’m with my friends,
we do friends stuff.
When I was with my girlfriend,
we did relation stuff.

When I’m with you,
we don’t do nothing amazing:
we don’t fuck;
we don’t make love;
we just talk or dance.
But it’s always
a hell of a night!

José Pedro Cadima

domingo, outubro 18, 2009

O rosário e o santinho

“Não te preocupes mais com o rosário e com o santinho. Nesta altura não sou capaz de dar nada por muito certo.”

José Cadima

sábado, outubro 17, 2009

Equivalência/Equilíbrio

É o ying e o yang.
A equivalência existe
e não se pode ter tudo.
É a justiça,
macabra, mas é.

Era viver para ti
ou viver por mim.
Ter memórias contigo
ou ter memórias próprias.

Atingir o caos
que é viver
ou saborear a paz
que é a inércia.

É fazer tudo para ser feliz
ou não fazer nada e ser feliz.

Ambas, presas a mim mesmo,
uma com vontade,
outra sem vontade.

Mas, com ou sem vontade,
há a equivalência da paz e do caos
e, no fundo, é só isso que eu sou.


José Pedro Cadima

sexta-feira, outubro 16, 2009

Quando a realidade ainda é capaz de surpreender

1. Contrariando as expectativas, nem tudo foi mau nas eleições autárquicas do passado fim-de-semana. A melhor notícia surgida no Minho foi a queda de Fernando Reis, no poleiro, em Barcelos, há largos anos, com evidente prejuízo para o desenvolvimento do município que era suposto gerir. De Terras de Bouro e de Vieira do Minho, em particular, também veio indicação clara de que as rezas não bastam já para animar o povo.
2. Falando-se do deitar por terra de “dinossauros”, o contraponto a Barcelos esteve num seu município vizinho, onde porventura a falta de uma barba de tonalidade branca poderá ter feito alguma diferença. As más companhias de que “o candidato da oposição” se rodeou também não terão ajudado muito. Permanece a esperança que a renovação dos modelos de governação e de construção de cidade não tenham que aguardar mais 4 anos. Confirma-se assim que o povo ser sereno nem sempre é uma grande virtude.
3. Um pouco mais acima, em Viana do Lima, que depois foi do Castelo (mesmo não o tendo), também houve mudança, felizmente. O que é curioso neste caso é que foi o partido do homem que estava no poder que não esteve mais para aturar as birras e o umbiguismo de quem havia colocado na Câmara Municipal há uns quantos anos. É a excepção que confirma a rega. A excepção exprimiu-se no gesto de bom-senso do partido, coisa que se sabe bem arredia da prática política das estruturas partidárias nacionais, de um modo geral.
4. Já fora do Minho, na sua fronteira sudeste, também houve novidade bastante: nada mais nada menos que a queda da Fátima de Felgueiras, especialista em sacos azuis, fugas para o Brasil e penteados armados (não confundir com armaduras). Era uma heroína “do povo”, verdadeira Maria da Fonte dos nossos tempos, armada de varapau e truques de magia. Ficou a saber-se que as heroínas também se abatem, à medida que, expostos ao sol, os sacos vão perdendo a sua tonalidade original e os penteados armados se vão desmanchando.
5. Dizem-me entretanto que a verdadeira festa está guardada para daqui a 4 anos, quando a lei do limite de mandatos começar a produzir os seus efeitos. Não sei se estarei cá para festejar, mas que gostava de festejar, gostava.

J. C.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Os meus defeitos

E foram todos os meus defeitos
que me colocaram neste pedestal,
olhando de cima o mundo.

E é dele que vos vejo a todos
aí, abaixo do que é a vida.
Pobres miseráveis
que se juntaram a Atlas!

José Pedro Cadima

quarta-feira, outubro 14, 2009

Ver-te partir

Ver-te partir
Faz-me sentir
Faz-me pensar
Faz-me calar
A vontade que eu tenho
Cada vez mais vontade
Uma vontade que não te conto
Mas que tu sentes em mim

Partes com um ar incomodado
Não sei se o entendo
Tens vontade de ficar, mas tens que partir?
Ou tens que partir, porque não queres ficar?...

C.P.

terça-feira, outubro 13, 2009

Ponderando movimentos

Movo-me por impulsos,
mas pondero o momento.
Sei o que sentes e compreendo-o.
Não faz muito tempo, sentia algo idêntico.

Por isso me demoro.
Demoro por saber que não te fará melhor
a entrada em palco
nesta história complicada.

Espécie de vidas “Shakespeareanas”,
repletas da tragédia de cada um:
tu presa numa paixão passada;
eu ponderando movimentos,
restringindo-me neste novo impulso,
abstenho-me de te dizer o quanto és especial.

José Pedro Cadima

domingo, outubro 11, 2009

Agora que a Manuela é já definitivamente passado

1. Um amigo que é frequentador habitual do meio académico, por sinal amigo também de um dos editores deste jornal de parede, contou-me há algum tempo um episódio que não resisto a lembrar aqui. Faço-o só nesta altura porque se o tivesse feito antes corria o risco que me chamassem faccioso ou mal-intencionado, o que os meus/minhas caros(as) leitores(as) sabem que não sou nem um bocadinho. O episódio invoca as personagens de Manuela Ferreira Leite e do nosso muito estimado Prof. Aníbal Cavaco Silva, no tempo em que era mesmo professor, no Instituto Superior de Economia e Gestão (designação actual) da Universidade Técnica de Lisboa.
2. A invocação das figuras que indico terá ocorrido à mesa, no intervalo de umas provas académicas públicas em que participavam professores universitários de diversas proveniências do país, incluindo dois que terão sido alunos do Prof. Cavaco Silva na instituição em causa. O facto relevante a reter é que Cavaco Silva tinha na ocasião uma Assistente, que não era outra senão Manuela Ferreira Leite, que alguns/algumas recordarão por ter sido até há poucos dias, interinamente, presidente do PSD. E que tinha de especial nessa ocasião a dita senhora? Pois bem, segundo os dois ex-alunos do Prof. Cavaco Silva, distinguia-se por já então ser tão velha e tão feia quanto é hoje.
3. A conversa mantida à mesa, porventura estimulada pelo calor alentejano, que provocaria imensa sede, terá passado por outros temas. Um que valerá a pena invocar, igualmente, tem como protagonista um antigo reitor da Universidade da Madeira, que na altura se propunha assumir um lugar no quadro de professores catedráticos da Universidade de Évora, por transferência. No que a este tópico de conversa se oferece relevante contar é que o professor em causa estaria na cidade nesse dia, onde se deslocara para tomar posse do lugar. Essa posse acabou por não acontecer em razão de um pequeno detalhe: a oposição declarada da larga maioria dos professores da universidade da terra à decisão do reitor de atribuir o lugar da forma como se propunha fazê-lo. Supostamente, o conselho científico a quem cumpriria a decisão não havia sido consultado em devido tempo para o efeito.
4. A segunda dimensão curiosa deste episódio prendia-se com a circunstância do candidato a professor da Universidade de Évora se ter apresentado na cidade acompanhado pelo seu “lulu”. Ao que parece, era hábito daquele passear-se de cãozinho ao colo. O termo “lulu” prestava-se entretanto a outras interpretações, e daí que, na sequência do relato do caso, houvesse quem tivesse deixado escapar a dúvida se seria a cão ou a pessoa que o seu interlocutor estaria a referir-se.
5. É claro que Manuela Ferreira Leite não terá tido nada que ver com este último episódio, que porventura a deixaria chocada, mas que terá acabado por “conviver” com ele, isso terá sido um facto. Talvez daí derive a expressão popular bem conhecida “quem anda à chuva molha-se”, que só não se aplicaria aos militares, já que “chuva civil não molha militares”.

J. C.

sábado, outubro 10, 2009

Medo de ter medo

Não tenhas medo de ter medo
que ter medo é natural.

Basta que cruzes o teu olhar no meu
e me vejas pela transparência dos meus olhos.

Verás que não sou mais
do que o que te digo
ou do que te escrevo.

Verás que partilho
dos mesmos medos.

Madrid, 10 de Outubro

José Pedro Cadima

sexta-feira, outubro 09, 2009

Naturalmente seduzido

Fixo-me nos teus olhos profundos. Consigo ver como é o carinho que tu gostas de partilhar. Ao redor, vejo os teus traços faciais, a elegância de como apelam ao toque delicado que lhes desejo dar. Tu notas o meu deslumbramento e apresentas um ar inquisitivo. Detectas o meu fascínio. Faço de parvo por te olhar assim. Na verdade, repreendes-me sem o saber e acanho o meu espírito apaixonado.
Disfarço o meu olhar mas continuo torcendo os olhos para contemplar esses teus lábios. A sua forma toma de surpresa a minha ilimitada imaginação, que sente desde o toque mais simples e puro até a imensidão de formas que um beijo pode tomar. De novo, estou a incomodar. Quererás realmente saber aquilo que me vai na mente? Pelas palavras que embalas na tua voz, diria que sim. Se ao menos tivesse eu voz que te conseguisse conquistar. A ser assim, diria que desejo provar o carinho que pressinto nesses olhos profundos, diria que desejo passar a ponta dos meus dedos e sentir esses teus traços, diria que estou louco por sentir o toque dos teus formosos lábios.
Gostaria de poder olhar para ti com este desejo sem que achasses que estava só a ser estranho. Porque me sinto atraído tão naturalmente como quando pousei a caneta para escrever esta confissão!

Madrid, 5 de Outubro de 2009

José Pedro Cadima

quarta-feira, outubro 07, 2009

Agora que a chuva chegou

Agora que a chuva chegou, ocorre-me lembrar Ponte de Lima e os seus plátanos frondosos. Não é o caso daquele que aparece na foto. Porventura, lá há-de chegar.

José Cadima

O amor…

O amor
define-se facilmente.
É querer estar sempre contigo.
É querer partilhar muita coisa contigo.
É plantar flores e vê-las crescer estando tu a meu lado.
Pode ser uma palavra, um xi-coração
ou até um abraço muito forte,
que se dá apenas a quem queremos e desejamos.

O amor
tem sempre tempo,
se o quisermos…
Pode ser sempre,
se o desejarmos e alimentarmos.
Pode ser apenas momentos de felicidade,
mas que se eternizam.

Eu amo-te,
e sei definir o meu amor,
que não cabe nestas parcas palavras…

C.P.

terça-feira, outubro 06, 2009

Mensagens curtas, endereçadas

Lamento muito se não fores capaz de perdoar-me estas faltas graves, ainda que involuntárias! Tu ajuizarás o que achares mais adequado.

José Cadima

segunda-feira, outubro 05, 2009

O amor (2)

O amor
não se define.
Pode ser um beijo,
uma palavra,
um abraço.

O amor
não tem tempo.
Pode ser num dia,
numa noite
ou - quem me dera – sempre!

José Pedro Cadima

domingo, outubro 04, 2009

Desapontamentos

Estou desapontado: as previsões do tempo prometiam chuva intensa para hoje e só vi ainda uns chuviscos ontem à noite. Para desapontamento já me bastavam os resultados das recentes eleições para o parlamento nacional.
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J. Cadima Ribeiro

Uma surpresa…ontem…

Ontem fizeste-me uma surpresa
Ontem comunicaste tão bem comigo!...
Ontem entrelaçaste-te de surpresa
Ontem adormeceste-me e namoraste comigo
Ontem até a Lua decidiu ser uma surpresa!...
Ontem disseste “pronto, já passou”
Ontem senti-me ainda mais presa para minha surpresa
Ontem era quase Lua cheia
Ontem o nosso amor esteve perto da Lua
Ontem, Ontem, Ontem…
Parece que ainda estou tonta da surpresa…
Meu feiticeiro, foi tramada essa tua surpresa…

C.P.

sábado, outubro 03, 2009

Erasmus: percalços e atribulações


Ocorreu mais uma alteração - juro por deus que esta é a última. (Isto de participar no Programa Erasmus é de loucos).
O plano de estudos original parece que se perdeu (o tal enviado pela
UMinho à Carlos III). Vou enviar uma cópia do original criado cá por fax ou por e-mail. O original será enviado por correio ou poderei até entregá-lo pessoalmente dentro de duas semanas.

José Pedro G. Cadima

sexta-feira, outubro 02, 2009

Misto-Vida

Quero paz e caos.
Quero passado e futuro.

Experimento rodopios embriagados
que atravessam o vento
e marcam as paredes.

Misto de vontade e de esforço;
misto de tinta e de sangue.

É o esforço que faço
para me erguer na escrita,
combatendo, penosamente, a preguiça.

José Pedro Cadima