sábado, agosto 29, 2009

Sinto-me assim (2)

Só.
Abandonado.
Amargurado.
Esmagado em tristeza,
sabendo-me não amado.
Sinto-me assim.
Só.

José Pedro Cadima

sexta-feira, agosto 28, 2009

Introspecção: notas soltas, que farão sentido ou não

O que escrevo é, muitas vezes, uma fuga à realidade, percebida a partir dessa mesma realidade complexa. Os textos que leste são, por isso, peças literárias. É a esse título que são peças públicas. Aliás, as personagens que aparecem no jornal de parede também o são, quero dizer, são personagens ficcionadas, aparte o José Pedro.
Não sou poeta. Gosto de poesia e escrevo pontualmente uns textos poéticos. O José Pedro é que, porventura, será um poeta, com todos os custos que isso tem.
Obviamente, todos cometemos erros. Há é erros que nos marcam para sempre. Eu convivo com dois ou três. Ainda agora, nestas últimas semanas, aconteceram coisas que não deviam ter acontecido. Falámos sobre algumas.
Numa coisa tens razão: a minha vida afectiva (e pessoal) tem sido um completo desastre. Nisso, os textos são boa ilustração, de uma forma ou de outra.
Como posso ser o porto de abrigo de alguém se há tantos anos vivo desabrigado. Quem julgas que sou? Alguém que sobrevive a todas as contrariedades, só, em alto mar? "O monstro também precisa de amigos!"
Se te refugiaste numa concha, eu tive que ir para o mar alto lutar, e estive quase sempre só, mesmo que, em muitas ocasiões, precisasse desesperadamente de apoio. Há muitos anos que vivo insatisfeito com a minha pessoal, como deixo dito. Cheguei aqui com muito esforço. Vou tentar seguir o meu caminho.

José Cadima

quarta-feira, agosto 26, 2009

Irra que são teimosos(as)!

1. Já há uns anos largos escrevi sobre isso mas parece que não me levam a sério: então, não é que continuam a confundir o autor destas humildes crónicas com um dos editores deste jornal de parede, tudo só porque se dá uma parecença muito parcial de assinaturas e porque, para maior coincidência, o dito faz o favor de ser meu amigo. De permeio, parece esquecido que este vosso servo anda nisto há década e meia e pela altura em que começou a publicar os seus textos no saudoso Notícias do Minho (nem sempre com grande conforto do respectivo director), a internet estava a dar os primeiros passos e não se falava de blogues, nem de “Gmails”, e muito menos de “Facebooks”, “Twitters” e quejandos. Jornais de parede havia, de facto, mas eram mesmo de parede, hoje dir-se-ia de “wall”, para os diferenciar de outras “walls”, mais conhecidas por ecrans de computador.
2. Esta coisa de nos confundirem tem, em todo o caso, vantagens e desvantagens: vantagens para o meu amigo, que percebido como “charmoso” passou a ter muito mais sorte com as “garotas”; desvantagens para mim, que o sendo de facto, conforme resulta óbvio do que deixei enunciado em crónica anterior, acabo sem os favores das queridas leitoras que tanto apreciam as minhas crónicas. Por sorte, tive a oportunidade de travar conhecimento ultimamente com uma caríssima leitora assídua, que se veio a revelar uma agradável surpresa. A princípio, suspeitei do seu empenho em esgrimir comigo razões, cara a cara. Face a tamanho empenho, imaginei-a um daqueles estafermos que se vê muito nesta altura por aí, nas praias, exibindo ousados biquínis, ou até nalguns cartazes de propaganda eleitoral. Para minha grande alegria, a caríssima leitora assídua revelou-se ser mesmo uma leitora muito interessante, tanto que até acordámos já trocar uns textos. Quero eu dizer, nem sempre as coisas são o que parecem à primeira vista.
3. Por falar em estafermos, não resisto a deixar de fazer aqui referência a um “objecto” insólito com que me deparei quando num destes dias quentes de Agosto, para desenfastiar, fui dar uma volta a pé pela Universidade do Minho, em Gualtar. Então, não é que me deparei lá com um Monstrengo, em construção adiantada. É mesmo ao Monstrengo dos Lusíadas que quero referir-me. Fiquei sem perceber o simbolismo da homenagem que seguramente se pretenderá fazer a Camões ou a alguém mais ou menos conhecido daquele, mas que apanhei um valente susto lá isso apanhei. Desta forma insólita, pude entender bem melhor o temor que os marinheiros portugueses dos Descobrimentos lhe tinham e, daí, a enorme ousadia do seu empreendimento. Bem hajam!

J. C.

Amesterdão: breve balanço de uma visita

Correu tudo bem. Realmente não deu para que trocasse mais mensagens porque o meu acesso à internet estava um bocado limitado. No entanto, isso ajudou-me a manter a distância a Braga e a tudo o que ela representa para mim.
Um Abraço,
.
José Pedro Cadima

terça-feira, agosto 25, 2009

Não sou o teu amor

Odeio-me!
Não sou o ser magnífico
que procuras.

Odeio-me!
Não sou o sonho
que buscas.

Odeio-me,
por não me amares!

José Pedro Cadima


(poema extraído do livro Sonhos a Um Espelho, Papiro Editora, 2009, Lisboa, p. 41)

domingo, agosto 23, 2009

Avançar com o PS – juntas, só nós e ele, vamos conseguir!

“Avançar Portugal” e “Juntos Conseguimos”, têm-me suscitado muito interesse. Claro que me estou a referir aos belíssimos e apelativos slogans dos outdoors que o PS tem espalhado por várias cidades de Portugal. Na de Braga, tenho que reconhecer, estão estrategicamente espalhados pela cidade! Mal viro uma esquina dou sempre de caras com um do tamanho do mundo!
São apelativos, pois ver o nosso querido Sócrates rodeado de, pelo menos, 5 mulheres (as que se conseguem contar, porque aparecem desfocadas na imagem para não ofuscarem o Mestre) é coisa muito bem preparada. É a chamada “caça ao eleitorado feminino”! As catraias e senhoras escolhidas estão muito sorridentes e todas à volta do Mestre e algumas delas até parece que estão com “um ar de malucas”, expressão que é usada frequentemente por um amigo meu, quando se quer referir às mulheres que, neste caso, esperam algo mais do Mestre do que simples promessas eleitorais e que estão prontas para soltar as garras se o Mestre assim o desejar!
O homem (o Sócrates) até está com ar um pouco tímido (só para disfarçar, porque até aparece o contacto dele logo por baixo, http://www.socrates2009.pt/, sítio onde surge muito bem retocado pelo Photoshop), mas não entendo a relação que haverá entre ele e estas mulheres e o “Avançar Portugal” ou o “Juntos conseguimos”! Será que, neste momento, depois de uns quatro anos miseráveis, cheios de arrogância e prepotência, haverá alguém que queira avançar mais com o PS?
Ainda entendo o “Juntos conseguimos”, e parece-me que o homem desta vez está a ser esperto, pois se todas as mulheres votarem naquele homem “charmoso”(?), que ainda corre e mostra as pernocas nas maratonas (eu ainda não tive oportunidade de as ver, mas parece que ainda mexem corações), deverá ter uma votação muito confortável.
É que as mulheres dificilmente votarão numa mulher e muito menos numa tão pouco interessante como a Manuela Ferreira Leite! As mulheres queixam-se muito que não as deixam chegar ao poder mas, na hora da verdade, grande parte das vezes, acabam por votar num homem, porque consideram que será mais competente. Se acrescentarmos que o homem em causa além de homem tem as pernas direitinhas e é “charmoso” (característica que eu não consigo descortinar, talvez porque não sou maluca!), o caldo está mesmo entornado para as mulheres concorrentes!

Leonor

sábado, agosto 22, 2009

O teu colinho

Ao fim de um dia esgotante
Dás-me o teu colinho
Pressiono as tuas pernas
E colo-me ao teu corpo
Sinto a tua mão deslizando nas minhas costas
E abraço-me a ti
De repente, avanço e devoro-te com beijos
Alguns que mais parecem de criança
De criança que pouco colinho teve
Mas que depressa aprendeu a querê-lo
Não te esqueças de me dar o teu colinho
Sempre ao fim de um dia
Esgotante ou não…

C.P.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Poema (2)

Não quero voltar a ler-te,
porque me fazes recordar
mágoas que calam fundo.
Tenho a opção de rasgar-te
que hesito tomar,
por seres memória
de momentos que também foram de felicidade.
Não quero mais ver-te,
nem ao longe,
senão queimo-te.
Meu nobre poema,
quão incertos são os nossos humores,
e, sobretudo, os amores.
Não te corrijo, senão perco-te.
Não volto a ler-te,
senão rasgo-te.

José Pedro Cadima

(texto de 2004, editado por José Cadima nesta data)

sábado, agosto 15, 2009

Crónicas de Maldizer: o benefício de ter uma leitora assídua (II)

Caro J.C.
Fiquei surpreendida por ter reagido ao meu comentário e muito mais por se ter sentido magoado com algumas das minhas palavras.
Claro que deveria ter dado o benefício da dúvida, relativamente ao altruismo, mas...
Mas, Altruista tem um significado muito próprio, relacionado com caridade, com a preocupação com o próximo...
É entendido como sinónimo de solidariedade e dedicação aos outros.
Ainda poderei entendê-lo, ao J.C., no domínio da solidariedade, mas no da dedicação aos outros...terei que comprovar, pois só pessoas como a Madre Teresa de Calcutá é que enveredaram por esse caminho...
Por este motivo e porque não quero de modo algum ser injusta para consigo, aceito o convite que me dirigiu para o conhecer pessoalmente. Fico dependente de um sinal seu...
Uma leitora assídua
***
Caríssima Leitora assídua,
Se era um privilégio tê-la como leitora, a minha admiração por si e o meu agradecimento saem significativamente acrescentados por se mostrar disponível para que lhe exponha pessoalmente as minhas razões. Se o exercício da escrita perde grande parte da sua razão de ser se lhe faltam os leitores, crónicas que versam a problemática complexa da sociedade actual, como as que escrevo, correm o risco de roçar a abstracção se não forem capazes de mexer com os eventuais leitores. É uma oportunidade com que não sonhava.
Interpretou que fiquei magoado consigo do que deixei dito sobre o altruísmo que me anima. Não diria tanto. Detentor de uma personalidade sensível, como terá entendido, fiquei sensibilizado, apenas. De outro modo, não faria justiça à atenção do comentário da caríssima Leitora assídua, agora reforçada com essa sua aceitação do convite que lhe fiz para que esclareçamos as nossas diferenças e, quiçá, aprofundemos eventuais comunhões de pensamento.
Sobre a Madre Teresa de Calcutá não acrescentarei nada, em respeito pela sua memória, aparte dizer-lhe que me condoía a sua fraca figura dos últimos tempos. Porventura, aquando do seu tempo de menina e moça, teria sido mais interessante. Pela irrequietude que deixa transparecer, pelo arrojo das observações que me fez chegar, estou seguro que a caríssima Leitora assídua não me desapontará também nessa dimensão. Note: não é que isso me levasse a menor abertura ao aprofundamento da nossa comunicação. Para mim, um(a) leitor(a) é um(a) leitor(a).
Como modo de agilizar o agendamento do nosso “brainstorming” (desculpe o recurso a este termo estrangeiro; falta-me nesta altura o seu correspondente em português), sugiro que me faça chegar o seu contacto pessoal para o endereço de correio electrónico de um dos editores do blogue. Dessa forma, preservamos ambos a nossa reserva, de que sou muito cioso, confesso-lhe (não gostaria de modo algum de ver cair no domínio público o meu número de telemóvel, particularmente nesta altura de agitação eleitoral; sabe-se lá se algum putativo candidato não tentaria recrutar-me para dar algum brilho à respectiva lista). Fico cheio de esperança de ter notícias suas a muito breve prazo.
Desculpar-me-á que tenha pedido aos editores deste jornal de parede para publicarem esta minha resposta ao seu comentário na página principal. Dada a respectiva extensão, involuntária, não cumpria os requisitos para aparecer como comentário, propriamente dito. Por uma questão de equidade de tratamento e de maior inteligibilidade por parte dos eventuais leitores, vi-me também na obrigação de recuperar para este mesmo espaço o comentário da minha caríssima Leitora assídua.

J. C.

Ps: não tome o que lhe digo acima como indicação de que não apreciarei a sua vinda a terreiro neste fórum, para comentar o que analiso ou outro tema de maior relevância social que deseje versar. Aliás, salvaguardei isso junto dos editores do blogue desde o primeiro momento.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Crónicas de Maldizer: o benefício de ter uma leitora

Caro J.C.
Nunca pensei que tivesse coragem para contar publicamente momentos tão íntimos da sua vida, que, pela leitura que faço, foi muito pouco interessante até há algum tempo atrás.
Muito menos o sabia altruista. A verdade é que o conheço muito mal, apenas das crónicas com que nos premeia, mas "altruismo" não parece casar com "mal dizer"! Não lhe parece?!... E altruistas há muito poucos neste mundo! Não concorda?
Quanto aos seus dotes intelectuais não dúvido nada deles. Mas quanto ao facto de se ter tornado interessante, não me poderei pronunciar, pois não é "visível" através da sua escrita, mas acredito que a escrita seja um dos seus maiores dotes e que o torna verdadeiramente interessante.
Fiquei, não obstante, admirada por ter tido (ter) interesses tão diversificados quando era mais jovem e mesmo nesta fase madura da sua vida. Não será uma mistura explosiva?! Louras, morenas e ruivas, ainda que pareça ter preferência pelas louras (louraças como as apelida).
Pois é bom que o avise que as louraças que vai vendo por aí, são falsas louras. Existem dois motivos para passarem, mais tarde ou mais cedo, a serem louraças:
1-Têm quase sempre sucesso assegurado junto dos homens, porque entre outros motivos, são a encarnação dos anjos que estão lá longe no céu;
2-Necessitam de encobrir as "brancas" que vão aparecendo um pouco por todo o cabelo e essa cor é seguramente a que melhor camufla as atrevidas "brancas".
Desculpe o meu atrevimento em lhe contar estas misérias, mas sendo eu morena por natureza, senti-me na obrigação de lhe contar!
Leitora assídua das suas crónicas
***
Comentário (breve):
i) Antes de produzir um breve comentário de reacção ao comentário da Leitora assídua das (minhas) crónicas, cumpre-me deixar-lhe um sentido agradecimento. Na verdade, poucas vezes o esforçado cronista tem o benefício de receber comentários dos seus leitores(as) ou sequer tem indicação de tê-los(as), isto é, leitores ou leitoras. Além disso, o comentário é lisongeiro para o esforçado cronista que, mesmo não sendo vaidoso, não deixa de ser sensível ao reconhecimento dos seus poucos méritos.
ii) Na componente reacção ao que a cara Leitora assídua das (minhas) crónicas releva, gostaria de lhe dizer que a minha vida sempre foi e continua a ser um livro aberto. Não é por isso grande ousadia deixar passar algum aspecto de reflexão mais intimista, aparte o facto de, tendo tão poucos(as) leitores(as), isso se oferecer mais como um desabafo para o próprio naqueles momentos pontuais que todos temos de avaliação crítica do que tem sido a nossa via. Admito que não terá dados para confirmar o meu altruísmo. Já me custa mais que deixa a pairar a dúvida sobre ter-me tornado um homem muito interessante. As minhas próprias crónicas, que teve a gentileza de vir comentar, não lhe deixam desde logo transparecer inequivocamente essa dimensão? Sei que não é revelador de humildade vir dizer uma tal coisa publicamente mas, por um lado, todos temos os nossos momentos de fraqueza e, por outro, conforme disse já, escrever neste jornal de parede é sobretudo um exercício íntimo, qual diário pessoal que nunca será publicitado. Foi ,aliás, a essa luz que aceitei o repto dos editores deste jornal de parede de, ocasionalmente, voltar a produzir umas crónicas para serem aqui publicadas.
iii) Termino, porque prometi um comentário breve, que já corre o risco de o não ser (os editores do blogue perdoar-me-ão, desta vez, a falta de parcimónia no uso do espaço): querida Leitora assídua das (minhas) crónicas - renovo agradecimentos pelo privilégio de ter um seu comentário, mesmo não me fazendo ele justiça; não quer fazer-me chegar entretanto o seu contacto pessoal? Terei todo o gosto de, em conversa pessoal, trocar consigo impressões sobre dimensões menos esclarecidas do modesto texto que teve a simpatia de comentar.
J.C.

terça-feira, agosto 11, 2009

As surpresas que nos esperam com o correr da vida

1. Descobri há poucos anos que sou um homem muito interessante, quer dizer, interessante para as mulheres, aparte todos os dotes intelectuais e o altruísmo com que a natureza me prendou, o que não me parece pretensiosismo admitir nesta hora. Os meus leitores e as minhas leitoras de crónicas passadas já sabiam destes últimos dotes mas talvez não suspeitassem do primeiro. Imaginem lá como me posso sentir eu nesta ocasião, convencido que sempre estivera de não deter atributos físicos que agarrassem as garotas por quem tanto tempo suspirei, louras, morenas, ruivas mas, sobretudo, autênticas gatas de garras afiadas. Vista a coisa agora, tenho que concluir que talvez o problema estivesse ainda assim em mim, ao não saber, digamos assim, segredar-lhes ao ouvido as palavras belas que mereciam escutar. Tenho, por outro lado, que verberar a educação que recebi, que não me preparou convenientemente para a vida, como agora sai provado, e chorar os afectos de que não beneficiei e que fizeram de mim o homem carente e triste em que me tornei, até recentemente, digo.
2. Ser um homem “charmoso”, mesmo não sendo o Cristiano Ronaldo, tem imensas coisas boas: alimenta-nos o ego, permite-nos fazer inveja a amigos, a conhecidos e a desconhecidos quando nos passeamos de louraça pela mão (com as morenas também resulta mas menos), e torna-nos muito mais queridos para outras louraças e, sobretudo, para morenas e ruivas (tanto mais quanto mais pesado tenham o respectivo rabo). Tem entretanto sérios inconvenientes, não querendo mesmo assim seguir o Cristiano Ronaldo na mania que tem de dar presentes caros às namoradas. Um dos maiores inconvenientes que venho sentindo resulta da obrigação de manter prestações impecáveis em todos os momentos, trate-se de levar o gato à rua, acompanhar as crianças ou as amigas da nossa “mais que tudo” ou fazer abdominais. É preciso também ter muito cuidado quando se bebe uma boa cerveja (e não abundam, as boas cervejas), não vá a espuma correr-nos pelo canto da boca ou, quando nos recostamos no sofá lá da casa, parecer que deixámos que se gerassem umas gorduritas na barriga. Tudo pesado, ainda assim vale a pena. Sabe bem voltar a ter um colo onde nos acolhermos.
3. Demorei um bocado a adaptar-me, isto é, a reconhecer-me no “gato” que afinal era sem disso me dar conta mas, como é sabido, é da nossa natureza ajustarmo-nos mais rapidamente às coisas boas que às menos boas. Se sempre me custou não me poder chegar às garotas que me alegravam a vista na minha passagem pelo liceu, em pouco tempo acabei por aceitar ser o alvo da cobiça de algumas delas mais sensíveis ao desgaste do tempo e das vidas menos recomendáveis porque enveredaram (professoras do ensino secundário, empregadas de escritório, donas de casa, mães de miúdos e garotas intratáveis, entre variadas profissões). Há ocasiões até em me custa já perceber como puderam aquelas minhas amigas de antanho resistir a todo o meu encanto. Vendo-as agora, no entanto, alegra-me constatar a força de vontade que me permitiu resistir aos seus cantos de sereia.

J. C.

domingo, agosto 09, 2009

Eclodir de dor (2)

Escrevo como modo de evasão;
escrevo para desabafar;
escrevo para dar notícia de protesto;
escrevo para me encontrar,
para te reencontrar, em memória fugidia.
Sim, porque o que vejo
me dá motivo que pensar,
falar, gritar,
lavrar o meu protesto,
correr ao teu encontro.
Escrevo para dizer o que sinto,
dizer a verdade ou, até, mentir,
mas, sobretudo, deixar sair tudo...
Só assim sou capaz de impedir
que a dor
ou o desejo de felicidade
ecludam dentro de mim.

José Pedro Cadima

sexta-feira, agosto 07, 2009

Mensagens curtas, endereçadas

"Foi bom que tivesses podido ir às amoras ontem. Provavelmente, eu também estou a precisar de ir às amoras. Talvez o faça um destes dias."

José Cadima

quarta-feira, agosto 05, 2009

Ó mar salgado…(2)

Ó mar salgado
sei-te bem para lá do dobrar da rua, hoje,
mas nem por isso te pressinto longe.
Perto, perto tive-te ontem,
ao mesmo tempo salgado e doce,
como mo sugeriram os teus lábios
Ameaçado?
Ameaçado, sim, de certo modo,
por saber não serem suficientemente altas
as trincheiras que quis erguer
para me proteger
das tuas investidas
envoltas em veludo,
em abraços meigos,
em beijos que transpiram paixão.
Confesso-te: achaste-me impreparado
para uma luta
feita com tais armas.
Receio não me restar solução
outra que não seja render-me,
por mais que me custe,
por mais que, sem o querer,
querendo-o, me sinta fluir para ti.

José Cadima

segunda-feira, agosto 03, 2009

O presente que eu quero (2)

Daqui a algumas semanas faço anos
e quero um presente teu,
aquele que me negaste
no ano precedente:
sim, um, dois,
um milhão de beijos!
Se os mereço?
Pois claro que mereço:
não te dediquei eu
muitas dezenas de poemas?
Mais: para quem foi o meu pensamento
neste tempo todo de encontros
e de desencontros, também?
Será que é agora que sou capaz
de sensibilizar o teu coração,
na aparência duro como uma rocha?
Permites que alimente
essa esperança?
Permites que sonhe?
Se achas estranho
que te dedique tantos poemas,
porque não posso eu achar estranha
a tua forma de amar?

José Pedro Cadima

sábado, agosto 01, 2009

Minha Querida Cláudinha

Obrigado pelas tuas mensagens e pelo carinho com que me trataste nestes últimos dias. Fico contente com as notícias que me dás sobre as tuas coisas. Agradeço-te também, uma vez mais, a compreensão que revelaste no que respeita às minhas dificuldades. Não te peço que o sejas sempre, quero dizer, compreensiva.
Não sei quando terei condições para rever-te. Amanhã? 2ª feira? Seguramente, estarei contigo na 3ª feira pf. Dir-me-ás também que agenda tens para os dias seguintes.
Desculpa ter-te abandonado a partir de 4ª feira pf. Entendi que não podia deixar de vir a Braga. O resto não o previ.
Finalmente, agradeço as reflexões que produzistes sobre a minha vida pessoal. Num certo sentido, ajudam-me, mas não te esqueças que há coisas sobre que não gosto de falar e que saio sempre magoado dessas conversas (e normalmente não só eu).
Eu já te disse que és um amor?
Desejo-te um bom dia e um óptimo fim-de-semana.
Um beijo muito grande,

José Cadima