quarta-feira, julho 29, 2009

Ó mar salgado…

Ó mar salgado
quanto do teu sal…
Ó mar salgado
pressinto-te perto,
ao dobrar da rua,
mas não te enxergo.
Perto de ti,
sinto-me mais eu
mas não menos ameaçado.
Abalas-me as trincheiras
desta fortaleza
feita natureza,
mas nem em razão disso menos frágil,
menos ameaçada.
Ó mar salgado
a tua beleza, a tua força
atraiem-me de modo similar
ao que a gravidade nos prende
à Terra.
A um tempo, essa amarra sossega-nos,
a outro tempo desejávamos
que nos deixasse flutuar
de modo igual
ao que alcançamos nalguns sonhos.

José Cadima

sexta-feira, julho 24, 2009

Lua

De uma noite escura,
de um céu repleto de nuvens
nasceu um luar
tão grande, tão belo e feroz
que as nuvens mandaram afastar.

Ai, lua, que teu brilho
é tão bonito
que jamais poderá ser representado
por algo dito ou escrito.

É como o sorriso
que sai de um choro.
É como o beijo
de um qualquer namoro.

José Pedro Cadima

(poema extraído do livro "Sonhos a Um Espelho", Papiro Editora, 2009, Lisboa, p. 49)

terça-feira, julho 21, 2009

Uma festa de arromba em Braga

Braga viveu 6ª feira pp. uma festa como há muito não se via pela cidade. O S. João, com os seus martelinhos de plástico e as barracas de farturas, não tem como comparar-se-lhe. A grandiosidade da festa decorreu da presença ao vivo e a cores do Presidente da República portuguesa do Rei de Espanha, e, last but not least, dos primeiros ministros de ambos os países promotores do International Nanotechnologies Laboratory (INL) “inaugurado”. A festa também não teria o mesmo importante significado simbólico se não se tivessem juntado nas redondezas uns quantos docentes (manifestantes?) do ensino superior convenientemente escoltados pela polícia de choque que, ao que parece, não gosto nada de manifestantes (?) ou de docentes do ensino superior, como quer que se queira designá-los. Felizmente, havia por perto um campo de futebol e foi possível acantonar os ditos manifestantes (?) ou docentes do ensino superior (como melhor se entenda defini-los – fico na dúvida sobre quais possam ser mais perigosos) no recinto desportivo em causa, mesmo não tendo este a imponência do de Santiago do Chile, onde Pinochet enclausurou os seus oponentes a seguir ao golpe de estado (fascista) que protagonizou.
A festa, além de grandiosa, foi de todo oportuna já que o edifício tem pronto para aí um terço do que está planeado ser, exibindo na parte restante, já de pé, corres garridas e um “look” todo modernaço, em consonância com o fim a que está destinado. Para mais, como declarou alguém da organização à comunicação social, a inauguração do edifício “marca o lançamento da campanha internacional de apresentação do organismo e de promoção do recrutamento dos melhores cientistas, à escala internacional” (cf. Correio do Minho de 2009/07/17). Em tais circunstâncias, fazia lá sentido esperar que o edifício se apresentasse com o aspecto comum das construções acabadas que encontramos por aí pelo comum das nossas cidades?
Ao que parece, o instituto tem também por resolver a questão do estatuto jurídico, mas nisto também se vê a coerência do projecto. Já viram o que seria apostar num edifício modernaço, para investigação de coisas esquisitas, inaugurado com a construção a um terço do resultado final esperado e ter já tudo resolvido em matéria de enquadramento formal? E se acaso (vá de retro Satanás), obra acabada, não fosse mais ministro da ciência e de umas quantas coisas acessórias mais Mariano Gago? E se por acaso, por altura das vindimas, José Sócrates tivesse sido já apeado do poder lisboeta? E se, por manobra do destino, por ocasião do plantio da relva no espaço envolvente, no edifício fronteiro à Praça do Município morasse já outro inquilino? Desgraça! Desgraça! Em tais circunstâncias, o edifício poderia lá ser inaugurado? E ir-se-ia utilizar, lá para 2010, um edifico que tivesse ficado por inaugurar com pompa e circunstâncias como devem ser inaugurados edifícios com nomes tão sugestivos como International Nanotechnologies Laboratory, para mais votado à investigação de ciências ocultas, como dizem ser as Nanotecnologias?
Foi bom Braga poder viver este dia de festa de arromba nesta altura em que a festa se sugere tão arredia do semblante do comum dos bracarenses e de todos os outros bracarenses que a cidade acolhe, que são bastantes mais que os bracarenses comuns. Foi muito bom e ainda há-de ser bem melhor quando tivermos por Braga o INL propriamente dito, com cientistas e tudo, que ficam sempre bem nas suas batas brancas. Nisso, tem muita sorte Braga por poder dispor de uma larga reserva de bracarenses (que em tempos chegou a ser bastante maior) no Alto Minho, em Trás-os-Montes e até em sítios mais remotos, como o Brasil, a Ucrânia ou Cabo Verde, para citar só algumas origens. Retida na memória dos bracarenses que a viram, fica agora a expectativa sobre em que ocasião futura terá a cidade direito a festa de equivalente igualha. Que não seja muito lá para diante no tempo, são os votos que formulo com os demais, que para uma boa sardinhada e uns copos de verde tinto arranja-se sempre estômago.

J. C.

domingo, julho 19, 2009

Percorro...

Percorro o teu corpo
Deslizo os meus dedos
Um pouco por todos os cantos que encontro
Encontro as tuas mãos que me seduzem
Deslizam devagar pelo meu corpo
Como mais ninguém alguma vez o fez
Às vezes, tornam-se mais firmes
Sinal de que estás comunicando comigo
Hoje, sinto saudades das tuas mãos, da tua voz,
Até do teu olhar de menino
Sinto falta de quase tudo…

C.P.

sexta-feira, julho 17, 2009

Poemas para nada (2)

Sei que já deves estar farta
que te dedique poemas.
Sei que é inútil o meu esforço
para sensibilizar teu coração.
Mesmo assim, devo tentar,
devo mostrar-te esta força
que me impele para ti.

Se achas estranho
que te dedique estes poemas,
imagina a sensação
que será, fundado no que sinto por ti,
criá-los.

José Pedro Cadima

quinta-feira, julho 16, 2009

Mensagens curtas, endereçadas

Cheguei ao fim do dia bastante cansado. A noite de ontem também não foi particularmente boa. Espero sentir-me melhor amanhã.
Que me digas que não és uma fanática das noitadas ainda admito, agora dizeres-me que estás com saudades minhas depois do desgaste que foi para ti os dias que passámos juntos só pode ser por gozo. Eu já me contento que me digas que a minha companhia não foi tão penosa quanto estimavas.
Lamento não te ter levado a um sítio para dançares. Se o tivesse identificado, ter-te-ia levado, embora fosse seguro que me viesse a arrepender disso. Aí sim, terias oportunidade de me ver em agonia...
Um beijo grande,

José Cadima

terça-feira, julho 14, 2009

Monstros

- Monstros perseguem-me.
Vê-los? Ouve-los?
-Não?
-Mas, sente-los?
-Sinto!
Mas, diz-me:
porque te perseguem?
- Tu persegues-me.
Tu és o monstro!
Tu me falas.
Responde tu a essa pergunta.

José Pedro Cadima

sábado, julho 11, 2009

A meu lado

Pressinto-te
a meu lado,
sei-te a meu lado
e estranho saber-te
tão perto.
É estranha
a forma como a distância
nos torna próximos,
algumas vezes,
ontem, hoje, amanhã, talvez.
Dormes? Sonhas?
Eu também sonho, por vezes,
raramente.
Vezes há, até,
que sonho contigo, creio;
creio que sonho contigo,
digo.
Tão perto…

José Cadima

sexta-feira, julho 10, 2009

Procura de um esconderijo

Eu esmago quando beijo;
eu enforco quando abraço;
procuro meu esconderijo,
onde me desfaço.

E à procura dele já fui longe,
para um sítio distante;
atrás dele fui longe,
não olhei para trás um instante.

José Pedro Cadima

(poema extraído do livro "Sonhos a Um Espelho", Papiro Editora, 2009, Lisboa, p. 41)

terça-feira, julho 07, 2009

Minha Querida Cláudinha

Estas notas são tiradas do teu diário ou da tua memória, propriamente dita? Se são da tua memória, fico profundamente impressionado, não só pela memória dos detalhes como pela forma como viveste e planeaste este teu dia.
Mais uma vez, fico sem saber o que dizer-te, aparte algumas coisas que te digo algumas vezes e que tu não gostas que eu te diga. Preferia dizer-te que te acho um encanto, uma "teenager" que merece que tudo lhe corra bem, uma Cláudinha que me deixa desamparado porque nunca me ocorreu que me aparecesse pela frente a dizer-me que gosta um bocadinho de mim.
Evita atormentar-me mais. Não sei se consigo resistir. É que, por vezes, sinto-me profundamente frágil.
Quando partimos à aventura, precisamos sempre de boa sorte. Aliás, precisamos de boa sorte mesmo quando não partimos. Concluo que a tua amiga acompanhou todos os teus passos. Nem sempre isso é bom. Eu prefiro reservar essa informação para mim, a da aventura, digo.
Está a ser um dia de revelações para mim e um dia de intensas memórias para ti, deduzo. Vamos ver se o final do dia está à altura do que foi emergindo no seu decorrer. Depois de tanta expectativa ...
Um beijo muito grande,

José Cadima

segunda-feira, julho 06, 2009

12 meses e mais 3

Doze meses de descobertas
E mais três de caminhadas
Tu não acreditavas
Eu acreditava que eras tu
Abril, Maio, Junho
Sempre a caminhar
E pouco a adiantar
Brainstorming para aqui
Brainstorming para acoli
Que homem tão misterioso
Verdadeiro Adamastor e força da natureza
Depois…
Julho representou o teu medo e o meu deslumbramento
Agosto foi de descoberta para ti e para mim
Setembro de mais descoberta e já amor
Outubro de grande tempestade em que tanto me ajudaste
Novembro de alguma bonança e alguma esperança
Dezembro de arroz doce e com alguns pozinhos de descoberta
Janeiro de reconforto pela tormenta que se avistou
Fevereiro de contacto com parte da tua natureza
Março de renascer e de amor verdadeiro
Abril de trabalho e mais trabalho, mas feito com muito amor
Maio de mais trabalho e muito carinho e saudades
Junho de certeza de amor verdadeiro e já sem “Helena”
Julho à procura de substituta para a “Helena”
Com tanto amor e verdadeiro
Só posso aspirar que neste novo ano
Consigamos partilhar mais sentimentos e coisas simples da vida
Queres continuar a caminhada?

C.P.

sexta-feira, julho 03, 2009

O Teu Olhar de Menino

Às vezes olho para ti
E vejo os olhos de um menino
Adoro esse olhar
Que antes não existia
Os teus olhos
Comunicam com os meus
Duma forma que me assusta
Mas, também, que me conforta
Mas, também, que me emociona
Como será possível amar-te tanto?
Como?...
Porque ambos
Andávamos à procura
Do amor verdadeiro?
Do amor que vive de entrega
Mas, também de desafio
De muito brainstorming
Adoro esse teu novo olhar
De menino que quer
Finalmente
Brincar no recreio
De menino que quer
Viver o que não deixaram viver
Faças o que fizeres
Serás sempre o meu herói
Meu olhar de menino…

C. P.

quinta-feira, julho 02, 2009

Sinto que não sei

Enquanto percorro as estradas
destes variados mundos,
ausente que és,
sinto que não sei já se estas
são as estradas que quero
continuar a percorrer.
Falta-me o entusiasmo
que me compelia a percorrê-las,
a conhecer a excitação
perante um novo desafio.
Faltar-me-ás tu,
que és o ancoradouro
onde me sinto seguro,
quase sempre;
sempre que não exiges
que seja o herói
que não ambiciono mais ser.
Uma coisa é sobreviver, resistir,
deixar-me levar pelo desafio da luta
que só pode ser para vencer,
outra é querer lutar.
Sabes: os guerreiros também anseiam
ganhar o repouso.
Serás tu o meu repouso,
desafio que permaneces para mim?
Sinto a tua falta!

José Cadima