quarta-feira, abril 29, 2009

Quando os nossos corpos se separam

Quando os nossos corpos se separam
Olham-se e desejam ser felizes
Vestem-se apressadamente
Pois o tempo é escasso
Dizes-me que encontre um outro homem
Dizes-me que o apoio é demasiado pesado
Dizes-me que não somos compatíveis
Fico a olhar para ti
Quando deixarás de o dizer?
Sais e fico a pensar
Sinto o coração que esteve adormecido
Tanto tempo… e guardo-o dentro do meu corpo
Quero partilhá-lo contigo
Mas sem sentir que sou demasiado pesada...

C. P.

terça-feira, abril 28, 2009

Sinto que nada tenho (2)

Sinto que nada importa.
Sinto que já não te quero.
Sinto a felicidade mais longe.
Sinto que até uma coisa divertida
se pode tornar em algo muito aborrecido.
Sinto que perco algo.
Sinto que nada tenho.
Sinto...
Sinto e talvez preferisse não sentir.

José Pedro Cadima

domingo, abril 26, 2009

“O liberalismo é o que está a dar - II”

“Falando-se de liberalismo económico, competitividade e vantagens do consumidor, sempre me ocorre o caso da banca em Portugal. Alguns de nós recordarão o fio condutor do argumento subjacente à privatização e abertura do sector à iniciativa privada: «da concorrência haveria de resultar maior eficiência e crédito mais barato».
Estranhamente, dez anos depois, assistimos à situação caricata dos ministros das finanças, ainda por cima conhecidos partidários da corrente neoclássica/liberal, surgirem a criticar o sistema bancário por praticar elevadas taxas de intermediação (quer dizer, elevadas taxas de juro activas).
Um outro exemplo, bem próximo de nós, é o da nossa querida televisão. Não serei o primeiro a afirmar a propósito que, após a entrada no sector de novos operadores, se assistiu, sucessivamente, i) à perda de pluralidade de programação e ii) à deterioração da qualidade dos programas.
Dir-se-ia mesmo que a actual programação tem como únicos destinatários os analfabetos e os atrasados mentais. Se assim é, fica-me entretanto a dúvida sobre a dimensão do mercado alvo. É que, das estatísticas oficiais, sabemos que os analfabetos são uma componente importante, ainda hoje, da população portuguesa, mas creio não existir uma avaliação rigorosa do número de atrasados mentais. É crível, no entanto, que a RTP1, a SIC e a TVI disponham dessa informação.”

J.C.

(reprodução parcial de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 94/12/31, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

quarta-feira, abril 22, 2009

“O liberalismo é o que está a dar - I”

“Economistas e outros pensadores liberais dos séculos XVIII E XIX mantiveram amiúde visões «ingénuas» do funcionamento dos mercados, antevendo nestes instrumentos de bem-estar social e promotores da eficiência económica.
Com menos idealismo, subsistem nos dias de hoje economistas e outros actores sociais e políticos que continuam a propalar a mesma mensagem. Curiosamente, entre eles encontramos, entre outros, Milton Friedmann, o grande inspirador das reformas económicas no Chile durante o período fascista do general Pinochet.
O economista em referência é, aliás, um dos distinguidos com o Premio Nobel, nisso se equiparando ao seu compatriota Henry Kissinger, sabidamente um dos principais inspiradores do golpe fascista que derrubou o presidente eleito Salvador Allende.
Esta corrente de pensamento (a liberal, digo) tem também os seus seguidores em Portugal, muitos dos quais entre os filiados do partido no Governo. É, no entanto, sabido que na oposição, à direita e à esquerda, há também quem professe a mesma doutrina. Quem professe, refira-se, desde que não esteja em causa a sua posição ou o seu emprego.
E entende-se que assim seja: de facto, são conhecidos os incómodos e as canseiras a que qualquer maduro tem que se sujeitar para aceder a certos cargos, no aparelho do partido e de Estado, nas empresas públicas, e noutros organismos assimilados.”

J.C.
(reprodução parcial de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 94/12/31, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

terça-feira, abril 21, 2009

“Ergo aqui a bandeira dos deserdados”

“Ergo aqui a bandeira dos deserdados, como afirmei já, porque sempre me repugnaram as injustiças, todas as injustiças, e este é bem o caso presente, até porque se em tempos os militantes laranja eram certamente os melhores, os mais competentes de entre os portugueses, nada nos pode levar a deduzir que isso não se passe hoje com os do partido da rosa. Não terá sido precisamente por isso que o PS ganhou as eleições? E, se foi, então vai-se agora defraudar desta forma os portugueses?”

J.C.
(excerto de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 95/12/23, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

sábado, abril 18, 2009

As minhas luvas pretas

Uso luvas para não sentir,
para não te sentir:
à tua pele,
ao teu cabelo,
ao teu amor fugidio.
Essas luvas são pretas
para te mostrar que estou de luto,
que o meu coração está de luto.

José Pedro Cadima

(poema extraído do livro "Sonhos a Um Espelho", Papiro Editora, Lisboa, p. 20)

quarta-feira, abril 15, 2009

Quando vejo a chuva cair

Quando vejo a chuva cair,
interrogo-me se, com ela,
não vão as minhas próprias lágrimas,
lágrimas de desconsolo e de desencanto.
Olho a chuva, lá fora,
e vejo as minhas próprias lágrimas,
que já foram de amor e, agora, são só de dor.
Olho a chuva lá fora, que cai grossa,
e vejo o meu mundo desfazer-se,
agora que sinto que o amor não alcanço.

José Pedro Cadima

(poema extraído do livro "Sonhos a Um Espelho", Papiro Editora, Lisboa, p. 17)

domingo, abril 12, 2009

Mensagens curtas, endereçadas

"Há ocasiões em que fico completamente sem jeito. Isso acontece, especialmente, quando me dizes certas coisas. Na falta de melhores palavras, repito-te aquilo que já te disse muitas vezes e que é: eu também gosto um bocadinho grande de ti!"

José Cadima

quinta-feira, abril 09, 2009

“No reino da ausência de imaginação - II”

“Já imaginaram com que cara ficariam o Soares, o Cavaco, o Guterres, e o Soares, e o Cavaco se um dia chegassem a uma qualquer parvónia deste país e não encontrassem a recebê-los e a aplaudi-los uma rebanhada dos ditos? Quero dizer, se não tivessem a esperá-los mais do que a família e, eventualmente, o cão.
É óbvio que o cenário é ficção pura. Pois claro que é, mas deixem-me acreditar que verei esse dia.
E, mais: deixem-me sonhar que um dia virá em que os ministros e os secretários de estado em Portugal terão a dignidade de se demitir quando resultar provado que os seus homens de confiança andam a meter a mão nos bolsos dos portugueses ou a fazer «bom uso» dos impostos cobrados; deixem-me crer que assistirei à dignidade de um gesto de demissão quando um ministro ou um secretário de estado é confrontado com a realidade de uma política que, na forma e no conteúdo, se oferece o oposto do que o ministro e o secretário de estado proclamaram.
De que está à espera Sr. Ministro do Planeamento e Administração do Território para se demitir?
Que é preciso mais Sr.ª. Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional para solicitar a demissão?
Que mais será preciso acontecer Sr.ª. Ministra da Educação para que tome a decisão de voltar para casa? De que estão à espera Srs. Ministros, Srs. Secretários de Estado, Srs. Presidentes das Comissões de Coordenação Regional?”

J.C.
(reprodução parcial de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 95/04/22, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

segunda-feira, abril 06, 2009

“No reino da ausência de imaginação - I”

“Sem ideias. Totalmente falho de imaginação, é como me sinto. Tanto melhor: há quem viva disso e, mesmo, quem faça disso alarde.
Como é que se disfarça? Foge-se para diante; proclama-se aos sete ventos que quem não tem ideias são os outros.
Se resulta? A prova provada que resulta são o governo e o primeiro-ministro que temos, a maioria e a minoria que nos governam. Olhem o Pacheco Pereira, o Barreto, o Saraiva, o Magalhães. Acham que eles ganhavam a vida da forma que ganham se vivessem num país em que as pessoas têm ideias? Isto é, os homens e as mulheres tivessem mais ambição que chegar ao fim do dia, ao fim da semana, ao fim do mês, àas férias no Algarve, ao fim do ano?
Acham que os Pachecos e os Barretos chegavam a estrelas da rádio e da TV se os homens e as mulheres deste país tivessem mais ambição que chegar a casa a tempo do início do próximo encontro de futebol ou do episódio diário da telenovela?”

J.C.
(reprodução parcial de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 95/04/22, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

sexta-feira, abril 03, 2009

Urze


Esta sou eu...

C.P.
*
Comentário: estás lindissima esta manhã, apesar de te teres levantado muito cedo (José Cadima).

Minha Flor de Tojo

Minha flor amarela de tojo
Que sobressai com vivacidade na paisagem
Quero tocar-te, sentir-te
Mas sobressalto-me ao olhar-te
És feito de tojo
És a Natureza
Terei eu que ser também um tojo?
Talvez não…
Serei flor de urze
Mais discreta do que tu
Menos defensiva do que tu
Feliz, por perto de ti estar
Lá em cima na serra
Sinto-te, às vezes, tocar-me
Quando uma brisa passa…
Ainda que diferentes
Poderemos ser almas gémeas?

C.P.

quinta-feira, abril 02, 2009

Mensagens curtas, endereçadas

"Sinto muito ter-te deixado entristecida ontem à noite. Estou convencido que fiz bem em ter-te dado a oportunidade de dormir descansada. Tu concordarás ou não."

José Cadima