quinta-feira, julho 31, 2008

Relógio do Amor (memória)

Tic-tac, tic-tac,
pequeno som que faz o relógio,
pequena máquina de destruição
que me destrói por dentro,
pois és tu que me dizes
há quanto tempo estou sem ela,
sem a minha musa,
sem o meu amor,
sem o meu tudo.

Se tens pena de mim,
faz-me um favor,
um pequeno favor:
pára quando eu com ela estiver.
Pára para toda a eternidade.

José Pedro Cadima

terça-feira, julho 29, 2008

“Ainda há esperança - III”

4. Para introduzir uma nota dissonante nesta crónica, quero entretanto dizer aos leitores que na ocasião em que a escrevia o dia se apresentava solarengo, e não via razão nenhuma para admitir que fosse o último dia em que isso viesse a acontecer. Ora, se eu fui levado a pensar isso, porque não hão-de os meus leitores, por seu turno, sonhar com o dia em que Vieira do Minho e Cabeceiras de Basto igualarão em rendimento «per capita» Lisboa e em que os políticos no activo não se chamem todos Mendes, Menezes, Braga, Dias, Lacão, Monteiro ou outros nomes igualmente denunciadores de política praticada ao seu nível mais rasteiro.”

J. C.
(reprodução parcial de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 96/06/01, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

domingo, julho 27, 2008

Bela criatividade

Quão bela é a criatividade humana. Chega, até, a questionar o domínio dos deuses.

Assemelhava-se o homem a um chimpanzé. Vivia da colecta de frutos e da captura de animais. Ansiava dar às suas mãos uso e logo agarrou um pedaço do céu.

Doravante, via-se-lhe nos olhos um novo ser. Os deuses eram agora mortais. O poder de criar não morria.

Não fomos expulsos do Éden. Criámo-lo nós próprios. Deitámos por terra a perfeição por se ter tornado coisa antiquada. O horror vinha do instinto animal. O poder de criar, roubámo-lo ao céu.

Fez-se história: criámos o horror e a arte; separámos a vida e a morte; gritámos com a morte. Impusemos-lhe mais anos de vida. Aprendemos que a uma criança não se dá uma tesoura.

Aos deuses restou-lhes arrependerem-se de não serem tão bons pais.

José Pedro Cadima

sexta-feira, julho 25, 2008

Minha Querida Helena

De tão atarefada que estás, fico com um sentimento de culpa por ter-te desafiado para uma breve fuga para o mundo dos sonhos. Sinceramente, se vês que não é possível compatibilizar esse devaneio com a tua agenda pessoal e profissional, diz-mo. Não ficarei de modo algum zangado. Também há a alternativa de mudarmos a data. Se insistires em que fique como está, é de facto ao Minho profundo que me proponho levar-te. Sei de um lugar (há mais que um) que se me sugere bem acolhedor para uma noite mal dormida, eventualmente.
Fazes coisas muito giras com as tuas mensagens electrónicas. Nem imaginei que era possível fazer isso. Talvez te devesses dedicar às artes visuais, sobrando-te tempo.
No que respeita ao trabalho que tinha entre-mãos, já dei conta do recado, felizmente. Os artigos estão prontos, ficando a marinar até 2ª feira pela manhã, altura em que embarcam para o destino.
Já que falo de trabalho, deixa que te diga que não te sabia tão avessa a vassouras. Sinal dos tempos, porventura.
Não acho boa ideia que releias as minhas mensagens. De cada vez que o fazes vens com uma nova interpretação, como se as mensagens fossem ambíguas ou pretendessem dizer mais do que aquilo que dizem. No mais, fico-te eternamente reconhecido pelo teu carinho e atenção, e lisonjeado por me dizeres que a mereço, a atenção, digo.
Nos teus braços, sinto-me quase com os teus 19 anos. Isso perturba-me. Já não estou habituado a ter essa idade. Assim sendo, embora, ou por isso mesmo, anseio voltar para os teus braços.
Recebe um beijo muito, muito grande.

José Cadima

quinta-feira, julho 24, 2008

Viva a artificialidade!

No inferno, e não somos irmãos.
Juntos vínhamos, e não somos amigos.
Algures, roubei. Ele matou.
Fui preso, com fome.
O que é a fome, nunca soube ele.

Comemore-se este tempo de hipocrisia.
Viva a artificialidade!
Senda nela que nos cruzamos e achamos o nosso caminho,
comemoremo-la, pois. Hurra!

José Pedro Cadima

terça-feira, julho 22, 2008

Alpinista do amor (2)

Tal como um alpinista
escala uma montanha,
eu ensaio escalar teu coração.
A minha vida sem ti carece de sentido,
é solidão imensa;
só contigo se enche de emoção.

José Pedro Cadima

domingo, julho 20, 2008

Felicidade, essa miragem

A minha cabeça fervilha
com tudo o que me ocorre nesta hora,
com tudo aquilo que sinto e vejo
e com quanto anseio e não alcanço.
...
O silêncio, o choro,
o amor, o ódio, o desespero, a esperança…

Quem sabe se um dia, talvez…
Quem sabe se um dia serei capaz de ser feliz.
Tudo o que sinto, tudo o que desejo
parece trazer-me infelicidade.
Aquilo que procuro, não encontro.
Ao invés, algumas vezes encontro o que não procurava.
Choro. Fujo para longe, longe de mim, entenda-se.
Que farias tu no meu lugar?
Chorar, talvez,
tal qual eu faço, quando sou capaz.

José Pedro Cadima

(editado por José Cadima, nesta data)

sexta-feira, julho 18, 2008

O destino

Sou eu aquele a quem o diabo vendeu a alma.
Sou eu o terror no medo e o desespero no terror.
Ao desespero deixo-o sozinho.

Sabe deus quanto lhe custou um anjo.
Sei que o comprei por menos.
Sabe o homem o que é a dor
até ao momento imediatamente antes do pós-guerra.
Sei qual é a alegria de a começar.

Cultivam-se e esmagam-se plantas,
das mais feias às mais belas.
Sou eu que o digo, que sei bem do que falo.
Olho o homem nos olhos:
fica-lhe bem a morte!

José Pedro Cadima

terça-feira, julho 15, 2008

Olhar-te

Olhar uma paisagem
Que sempre esteve lá
Mais alucinante que uma nova paisagem
É olhar-te, ver-te lá
Sentir a emoção de explorar-te
Sentir que sempre estiveste por lá
Captar o teu olhar
Olhar-te e perder-me por lá

C.P.

segunda-feira, julho 14, 2008

Minha Querida Helena

O que eu desconfio é que começas mesmo a gostar de mim e isso deixa-me preocupado. Muito poucas pessoas gostaram verdadeiramente de mim até hoje e, daí, talvez possas perceber quanto isso me soa estranho. Repara: não é que não ache que não tenha algumas qualidades e mereça um pouco de amor. A gente habitua-se a pensar as coisas de um certo modo e depois tem dificuldade em ajustar-se a outro contexto. Até porque já não vou para novo, como é bem evidente.
Não confundas estas confidências íntimas com "brainstorming". Isso é outra realidade. Aí são as questões "técnicas" que emergem. Trata-se de reflectir sobre o nosso quotidiano, confrontar avaliações. Não há grande espaço para emoções a este nível reservado. Aliás, aqui posso até dizer-te coisas que nunca seria capaz de transmitir-te olhos nos olhos, porque, conforme já tiveste oportunidade de constatar, há coisas, acontecimentos que me emocionam muito e que, por isso, dificilmente sou capaz de exteriorizar de viva voz. A escrita é, a esse nível, um instrumento muito mais impessoal, porque ambíguo. Aí pode-se dizer quase tudo, porque cada um fará a sua leitura, isto é, há sempre alguma ficção, ou pode admitir-se que a haja.

Numa tua anterior mensagem, mais profissional mas não menos denunciadora das emoções que te assaltam, davas-me os parabéns pelo trabalho de consultoria em que estive envolvido e que foi muito recentemente apresentado ao público, com alguma pompa e circunstância. É bonito que o tenhas feito e foram bonitos os elogios que a esse respeito me endereçaste. Fico muito contente que tenhas ficado com boa impressão do trabalho. Nota entretanto o seguinte:
i) o essencial do trabalho técnico não foi feito por mim; eu dei-lhe os contornos estruturais, coordenei a composição de algumas peças e participei activamente na componente de elaboração estratégica, incluindo a componente mais imediatamente política (de vender o projecto, à entidade que o contratou e à população);
ii) tratando-se de um projecto na área dos transportes, nem era óbvio o meu envolvimento; aliás, entrei nele contrariado e enfrentei muitos momentos de desmotivação no decurso da sua elaboração;
iii) para minha surpresa, os resultados foram surpreendentemente bons; falo da capacidade que tivemos de vender à CCDR-N uma nova concepção de organização do território e de uso da linha-férrea como peça estruturante desse projecto; finalmente,
iv) lendo os jornais, nomeadamente os de hoje, fico convencido que deixei de ser um técnico de planeamento para ser uma marca que é usada como garantia de qualidade de um projecto; isso é simpático, sem dúvida, mas deixa-me alguns embaraços, conforme imaginas (inclusive, porque isso ofusca o trabalho árduo de outros, que, algumas vezes, mereceria ter maior reconhecimento).
Sobre mudar o mundo, não digo nada, nesta ocasião.
Isto dito, perceberás o sentimento misto que me atravessa e a dificuldade que as tuas palavras simpáticas me provocam. Deixas-me com mais ansiedade ainda em relação ao nosso próximo encontro. Vou lidar com dificuldade com a inviabilidade de te abraçar. Desgraças!
Fico por aqui. Está na hora de me refugiar no trabalho, já que o não posso fazer nos teus braços.
Um xicoração,
.
José Cadima

sábado, julho 12, 2008

Dá-me algo (2)

Dá-me algo para amar.
Dá-me o teu corpo
e, com ele, a tua alma.
Dá-me algo
que vá ao encontro
da minha ânsia de amar,
da minha necessidade profunda
de sentir-me amado.
Dá-me algo que juntos
possamos construir,
enlaçados de corpo e alma.

Naquele dia, caminhando sem destino,
fui dar a ti.
Foi tão inesperado,
tão … Sei lá.
Foi tão bom!

José Pedro Cadima

(editado por José Cadima, nesta data)

quinta-feira, julho 10, 2008

Procurar-lhe sentido

Mundo: sítio horrível,
em que se encontram Céu e Inferno,
o bem e o mal.
Presos neste vazio,
vasculhamos uma essência
que nos pertença,
que nos dê sentido.

Mundo: sítio horrível,
que nos leva à loucura
de lhe procurar sentido,
para que a nossa existência
não seja só forma
e seja, antes, sentido, essência, vida.

José Pedro Cadima

terça-feira, julho 08, 2008

Querida Helena

Devo assumir que estás a despedir-te, mesmo tendo acabado de chegar (se posso afirmar isso, sequer)? Se for o caso, aceito-o, ficando muito triste, embora. É da minha natureza ser triste. Disse-te que era uma personagem muito complexa, sendo sincero nessa afirmação. Há também coisas muito complexas na minha história de vida. As Helenas informam essa dimensão: são um desafio e uma maldição, desde a minha adolescência.
Helena que és, para mim, não fugirás a esse desígnio. Partir ou ficar é decisão tua. Aceitarei a que tomares. Se ficares, terás que conviver com a minha complexidade. Se partires, não digo que sobreviva porque uma parte adicional de mim partirá também. Continuarei com o que de mim restar.
Um beijo grande para a minha Helena,
.
José Cadima

domingo, julho 06, 2008

O que será?

O que será?
Quem será?
Porque será?
Que será que é?
Mil e uma imagens,
cada uma a valer mil palavras,
mil acções, mil ideias,
passam pela minha cabeça,
sobrevoam-me em voo rasante.
Vejo-as passar
e, no entanto, não parecem fazer sentido,
não lhes encontro sentido
e, por assim ser, questiono-me
sobre a sua razão de ser.
Não lhes encontro sentido
e gostava de encontrar.
Talvez a resposta chegue amanhã,
talvez...

José Pedro Cadima

sexta-feira, julho 04, 2008

Mundo ingrato

Contando as estrelas,
faço vida de passatempo,
aprecio beleza
desobrigado da ver.

Contando estrelas e planetas,
vejo derreter ouro
e fazer moedas,
vejo morrer homens
e fazer festas.
O amor segue descalço.

Anda descalço o amor
a calcar espinhos de rosa,
fugindo de feridas pequenas
que nos pés se aconchegam.

Nunca foi tão pobre.
Deu tudo o que tinha
sem olhar ao que lhe restou.

Não lhe resta nada.
Descalço, ferido
e com os pés em ferida,
só nos resta implorar-lhe que não se vá,
que fique,
que aceite sofrer só um pouco mais.

José Pedro Cadima

quarta-feira, julho 02, 2008

Desejar-te

Desejo-te a cada momento
Mesmo ao acordar
És em mim forte sentido
Sentido que quero dar
Sinto-me tua
Antes de o ser
Vem…
Pega na minha mão
E mostra-me o sentido
Que me queres dar

C.P.

terça-feira, julho 01, 2008

Escreverei um poema (2)

Deixem-me ficar com ela
e escreverei um poema.
Deixem-me beijá-la
e ela mesmo será o tema
do meu poema.
Deixem-me com o meu amor.
Não peço mais nada, nesta hora.
Deixem-me ficar com ela … beijá-la,
abraçá-la...
Prometo que serei o seu apaixonado amante.
Prometo mover mundos para que o meu amor a encante.
Prometo...

José Pedro Cadima