Imagina só poderes ver os meus sonhos no meu reflexo. "Jornal de Parede" de José Pedro Cadima e de José Cadima
domingo, setembro 30, 2007
Loucura
sexta-feira, setembro 28, 2007
Hora da escrita
comecei a escrever os meus textos
com horas de registo.
Não interessa, não importa
em que dia foi.
Não importa os dias já que são iguais,
um após outro.
Interessa-me sim a hora
porque, assim, lembrar-me-ei
aonde se situava o Sol e a Lua
no momento da escrita,
especialmente da Lua.
José Pedro Cadima
quarta-feira, setembro 26, 2007
Sentimentos mistos
por todo o lado.
Ninguém diria que vivo
em pleno paraíso, no lugar de Miguel.
Na minha cabeça,
o inferno, o centro da terra.
Chamas que ardem cá fora
em forma de silêncio.
E, por dentro, um vulcão que ameaça explodir
em cinzas e chamas.
Anseio deixar entrar a paz
mas a pressão interior
persiste forte,
no limite da minha capacidade de controlar
as emoções que me assaltam.
José Pedro Cadima
sexta-feira, setembro 21, 2007
Eu senti
Ela chegou. Olhou-me. Terá talvez procurado também o meu olhar. Eu escondi-lho. Se ela o visse, veria demais. Ela sentiu-o. Eu senti-o.
As palavras que saíram de minha boca pareciam ter saído da boca de outro, pareciam ter saído da boca de alguém zangado. Ela procurou resguardar-se daquilo que eu sentia.
As palavras saíram da sua boca, mas as lágrimas antecederam-nas e desceram o seu rosto até, por fim, pinga a pinga, caírem sobre os meus pés mesmo antes da primeira palavra ser dita. Ela sentiu-o. Eu sei que o sentiu.
Eu levantei-me e fiz o que julguei que era apropriado fazer: abracei-a. Fiz de conta que não era aquele alguém zangado que antes parecera. Ela sentiu-o. Eu senti-o.
Ela envolveu-me em seus braços, passando-os por baixo dos meus. Apertou-me com força. Encostámos nossos corpos. Estávamos muito próximos um do outro. Percebê-mo-lo, ela e eu.
Beijei seu pescoço. Cheirei seu cabelo. Apertei-a contra mim, como me habituei e queria fazer e desejei poder fazer para sempre.
Já nos tínhamos sentido assim…
Acariciei a sua cara. Sua pele era mais suave que seda. Acariciou-me também. Sentiu a minha barba, o áspero tocar seus dedos. Sim, já nos tínhamos sentido assim.
Cheguei a sorrir. Cheguei a desenhar muito ao de leve em minha cara um encaracolar de meus lábios nos seus extremos. Percebia-se, agora, na sua face o arrependimento de me ter feito zangar. Ela sentiu-o. Eu senti-o.
Percebi, então, mais uma vez, que estava perante a minha musa. Ela, por contraponto, disse-me que, de todos os seus admiradores, eu seria sempre o seu preferido. Eu acreditei. Ela sentiu-0. Eu senti-o.
Cruzei o meu olhar com o dela. Peguei-a pelos braços, puxei-a mais para mim e dei-lhe um beijo que quis que fosse carinhoso e eterno.
Eu senti-o… Tu sentiste-o?
José Pedro Cadima
Um Beijo
Estão cem pessoas na sala. No entanto, o seu olhar está colocado em mim. Os meus passos percorrem o longo percurso que me leva ao destino. Passa alguém à minha frente mas fica transparente. Consigo ainda vê-la, consigo ainda sentir o seu olhar sobre mim. Não ando; rastejo até ela. Como um caracol, sou lento mas sei que lá vou chegar.
A sua respiração denuncia o seu medo. Apesar de rápida e forte, tenta esconder-se, como um soldado preparado para tudo mas com uma arma apontada à sua cabeça. Eu sou a arma!
O seu olhar e o meu confrontam-se e a cada passo que eu dou na sua direcção ela dá um atrás. Bastaram três passos para ela estar de costas encostadas à parede, três míseros passos para sair do esconderijo e perceber que a arma não a vai matar. O amor é mais forte que o ódio!
Minha cabeça inclina-se para baixo. Ela é mais baixa, mais frágil. Tenho que estar ao seu nível. Tenho de me redimir perante a deusa. Será ela a minha deusa? Agora é a minha respiração que acelera, que sente medo, mas não o escondo. Quero estar com a respiração dela. Quero harmonia!
Morde os lábios. O meu olhar descai-se do seu olhar para os seus lábios. Fui eu que cedi. Apanhado na armadilha de quem tinha medo, afinal sou eu a presa. Ela é a caçadora. Inclino a cabeça para a direita e aproximo meus lábios. Sinto um arrepio.
Nossos olhos semi-cerram-se. No entanto, não paramos de olhar um para o outro. É dos arrepios certamente. Meus braços aproximam-se da sua cintura e, devagar, minhas mãos pousam no seu corpo, como num gesto de baile cuja bailarina quer ser levantada. Mas, no entanto, isso só se faria com os lábios.
Minhas mãos, aos poucos, contornam seu corpo. Uma mão faz o seu corpo contorcer-se enquanto me aproximo para que o meu corpo toque o dela. As suas mãos sobem pelos meus ombros e agarram o meu cabelo com força. Nada as faria largá-lo. Nada!
Ela fecha os olhos. É o momento…
José Pedro Cadima
quinta-feira, setembro 20, 2007
O sabor de uma nova paixão
já só sinto paixão.
Em mim, já pressinto o sabor
de uma nova desilusão.
Como se não fosse bastante cruel
este invenerável mundo,
vieste tu com asas de papel,
qual fada de meus sonhos, tocar-me bem fundo.
José Pedro Cadima
terça-feira, setembro 18, 2007
Nestes dias penosos ...
Na falta de resposta conclusiva, procuro a mais forte das alienações que conheço: o trabalho; o trabalho esgotante, que não me deixa espaço para que continue a questionar-me sobre o vazio que me assiste.
Mau, mau mesmo são as pausas!
José Cadima
sábado, setembro 15, 2007
Água…
e para a água há-de voltar,
nas tristes lágrimas
acabadas de libertar...
No meu ouvido continua a soar o teu "amo-te",
mas é apenas o passado a ecoar.
As lágrimas escorrem, copiosamente, dos meus olhos.
José Pedro Cadima
quinta-feira, setembro 13, 2007
Solto no escuro
Ter medo de olhar para trás
e saber que também à frente não verá aquilo
que receia não poder alcançar.
Respirar devagar,
escondido no negro de um perigo inexistente.
Ter medo de um nada
que nos arrepia a espinha.
Olhar para um lado e para o outro.
Ter medo de descolar do objecto
com que nos procuramos confundir.
Sentir que ficando quieto ninguém nos apanha,
porque talvez o perigo passe ao lado.
Depois, para fugir,
é preciso ainda mais coragem,
mesmo que seja preciso dar só um passo.
É que o medo do escuro pode correr mais do que nós.
José Pedro Cadima
terça-feira, setembro 11, 2007
Reconhecer
a confusão instaura-se.
Andava antes à procura de uma saída
e recuso-me agora a sair.
Vendo embora a entrada,
recusava-me na altura a entrar.
Nada disto faz sentido.
Nunca fez sentido.
Era um pensamento condenado.
Agora penso nos teus erros,
enquanto me recuso a acreditar
que alguma vez tenha errado.
Assim se demonstra uma outra vez
quanto o amor é capaz de nos confundir.
José Pedro Cadima
domingo, setembro 09, 2007
A vida é um pecado
Pois bem, dir-vos-ei: sou irónico!
Irónico e não pessimista, pois neste tempo histórico,
quando deito a mão ao meu coração
e tento agarrar a paixão
de viver e te ter a meu lado,
só sou capaz de concluir
que a minha vida sem ti é um pecado.
José Pedro Cadima
quinta-feira, setembro 06, 2007
Vida monótona
Porquê todos os dias?
Estarei destinado a ter esta vida
monótona e repetitiva?
Como se fosse um clone,
cada dia parece clonado do dia precedente,
mostrando um sorriso que cobre a minha tristeza,
as minhas mágoas,
os meus choros e o meu tédio.
José Pedro Cadima
terça-feira, setembro 04, 2007
Sabia lá eu ...
Não desconfiava mesmo o que seria
mergulhar no amor, de corpo inteiro.
Sabia o que eram palavras doces
e isso foi-me bastando.
Nunca imaginei quanto o amor me iria fazer padecer
e questiono-me, agora, se não teria sido melhor
permanecer na ignorância,
caso isso fosse possível.
Sabia o que eram versos
mas imaginei-os cultura da beleza e da forma
e não gritos de amor ferido.
Sabia lá o que era o amor.
José Pedro Cadima
sábado, setembro 01, 2007
Fotografias
tentando escrutinar as razões
pelas quais me apaixonei por ti.
Esse percurso levou-me até possiveis definições de beleza
e ao que me pode inspirar sensações de bem-estar.
São múltiplas as definições de beleza
que agora tenho,
tantas quantas as expressões de doçura
que descortinei em cada foto tua
que tenho em minha posse.
É certo que não sei se os traços que aí encontrei
são originariamente teus
ou se foram os meus olhos
que os desenharam no teu rosto,
mas isso pouco importa.
José Pedro Cadima