domingo, julho 29, 2007

Riu-se de mim

Passou-me por cima;
não me viu.
- Pisei-te? Desculpa…
(Era a segunda vez).
Não se pôde conter;
riu-se de mim;
riu-se das palavras ocas,
dos sentimentos que fingia profundos;
riu-se de como me traía.

José Pedro Cadima

sexta-feira, julho 27, 2007

A Lua

Para onde foi a lua
que me passeou,
que me iluminou o espírito?

Terá ido, porventura, passear outro alguém,
encontrar-lhe um caminho
e, quem sabe, …
provocar também nele
saudades daquele passeio que fizemos juntos,
eu, a lua e tu.

José Pedro Cadima

quarta-feira, julho 25, 2007

Pérfido

Destituída minha alma,
ficou um vazio
que me penaliza mais a mim que aos outros.
Nenhum clarão me invade,
mas também nada me detém.
Fico um passo à frente.

Porque se dantes tudo era mentira,
agora também o é…
mas, agora, é-o
porque estou um passo à frente da verdade.

José Pedro Cadima

segunda-feira, julho 23, 2007

Outono…

As folhas têm tantas cores
e caem tão depressa…
Noutra estação,
vi-as cair mais devagar.
Talvez a gravidade
ache estas mais bonitas…

José Pedro Cadima

sexta-feira, julho 20, 2007

Também já tive catorze anos

"Prefácio
Podendo sugerir-se irónico assim dito, di-lo-ei na mesma: também já tive catorze anos; também já escrevi poemas. Se calhar, ocasionalmente, ainda os escrevo. Serão, todavia, mais amargos que os que escrevi então, cujo rasto perdi.
Sei de quem não os escreveu porque, simplesmente, nunca chegou aos catorze anos. A tristeza que me assiste hoje vai buscar muito do seu fundamento a essa história infeliz. Importa, entretanto, celebrar a vida. Essa oferece-se-me a forma mais nobre de honrar os nossos mortos, como suas memórias vivas que somos.
Como recusar então dar forma a um sonho? Como não me reconhecer no jovem que tem um projecto? O projecto de escrever poesia, de escrever um livro; muitos sonhos para o futuro (e, mesmo, já algumas desilusões - aos catorze anos).
Reflectindo sobre os termos da resposta a dar, buscando a ironia de que às vezes sou capaz, ocasionalmente ocorreu-me a trilogia popular do livro, da árvore e do filho. A permanecer próprio dos tempos que correm este conceito de realização pessoal, oferecia-se-me clara a precocidade do meu filho. Descansava-me, todavia, a pouca apetência que este vem revelando pelas práticas de jardinagem. Como dizer não a um projecto tão bonito na sua inocência, na manifestação de ousadia e de sentimento, de vida que transporta?
Não havia, de facto, forma de recusar a cumplicidade com este projecto. Isso mo disse, desde o primeiro momento, uma poetisa, de corpo inteiro, que por viver a poesia tão intensamente não é mais capaz de viver o quotidiano que a vida nos reserva, quase sempre tristonho e mesquinho; quer dizer, insensível à dor dos que sofrem em silêncio, dos que escolheram celebrar o amor em vez de tantas outras coisas que se celebram por aí nas curvas e esquinas da nossa sociedade, que não sei se classificar de pós-moderna ou “gótica”.
Sobre a obra, em concreto, direi que é um trabalho cuja leitura e revisão de textos ora se me sugeriram gratificantes ora me foram penosas. A penosidade não relevou do esforço, em si, mas dos conteúdos com que fui deparando, demasiado sofridos, denunciando uma violência de sentimentos que me surpreendeu. Sobretudo, na dimensão desesperança da mensagem. Reparem: são só catorze anos; catorze anos de uma vida a que eu fui sempre dando o amparo que fui capaz. Podia ter sido mais, consinto, mas eu, que o não tive maior, não me recordo de ter escrito mensagens de tamanha mágoa e desapontamento, nessa idade. Os tempos são outros, sem dúvida, e talvez daí venha a diferença entre duas personalidades íntimas que eu pressinto tão próximas. É bem certo que, nessa idade, eu não tinha ainda uma namorada, no sentido comum do termo, pese embora as Helenas que se foram cruzando na minha vida. Teria sido mais feliz se a tivesse, especulo eu agora. Mas as Helenas sempre me foram esquivas. E quanto eu as amei!
Também eu escrevi poemas, sabem!? Talvez ainda escreva, mas já não canto a vida como usava cantar. Exprimem a mesma carência de amor. Isso é certo!

Braga, 9 de Agosto de 2004"

José Cadima
(reprodução do Prefácio do livro "Poemas ou um grito de vida", de José Pedro Cadima; edição de autor, Braga, 2004)

segunda-feira, julho 16, 2007

Raios de sol

Abriste as janelas.
Entraram múltiplos raios de sol;
tantos quanto os homens da tua vida,
mas até estes irradiavam mais calor.

José Pedro Cadima

sábado, julho 14, 2007

Mudança de ares

De sorriso na cara,
com o meu livro na mão,
estou eufórico,
transbordo alegria.
Milhares de palavras
tenho escrito,
dando expressão do que sinto,
dando notícia de tudo
que me falta.

José Pedro Cadima

quinta-feira, julho 12, 2007

Figura feminina

Olha para ti…
Olha para a tua figura feminina!
As curvas…
A estrutura…
Ainda questionas a incontornável expressividade
do teu corpo de mulher?
Eu acho-te perfeita!

José Pedro Cadima

segunda-feira, julho 09, 2007

Segredo melancólico

Sendo eu um indivíduo melancólico, talvez agora não o seja tanto como já fui.
Fui um ser mais melancólico, capaz de chorar pelos cantos que nem um chorão, mas nunca deixei que alguém visse: escondia cada lágrima para depois a atirar à cara daqueles que, olhando-me ao longe, se questionavam sobre o que sentia.
Não lhes dei o prazer de ver uma lágrima que fosse, mas satisfaço-lhes agora a vontade de saberem se chorava em silêncio.

José Pedro Cadima

sábado, julho 07, 2007

quarta-feira, julho 04, 2007

Inspiração vinda de ti

A inspiração bate em mim
como o vento.
Levanta, até, folhas
à minha volta.
A inspiração bate em mim
e levanta folhas
com poemas de amor que eu teria escrito
se tu fosses minha.

José Pedro Cadima

segunda-feira, julho 02, 2007

domingo, julho 01, 2007

Luz…

Luz da minha paixão,
desce do céu,
vem iluminar meu coração,
sufoca-me com beijos,
enche-me de desejos.
Ah luz como és bela!
Quão reconfortante é olhar para ti.
Apetece-me abraçar-te, beijar-te,
deixar-te penetrar meu coração.
Não sei, no entanto, se não me cegarias
de ilusão.

José Pedro Cadima